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Escola Sindical Sul debate os reflexos da longa jornada na saúde do trabalhador

Durante toda a sexta-feira (18), trabalhadores, lideranças sindicais e empresários se reuniram na Escola Sindical Sul, em Florianópolis, para debater os reflexos da jornada de trabalho na saúde do trabalhador.

A atividade, organizada pelo Fórum Popular de Saúde do Trabalhador, contou com a presença de aproximadamente 150 pessoas e 50 entidades representadas.

A primeira mesa de debates contou com as presenças de José Álvaro, do Dieese, e da dra. Vera Lúcia Salerio, do CERST de Campinas (SP), que tratou da jornada de trabalho e de suas implicações na saúde do trabalhador. Álvaro apresentou dados econômicos e sociais da realidade dos trabalhadores e a síntese da pesquisa realizada pela CUT sobre a jornada de trabalho, que teve foco na hora extra. Vera Lúcia apresentou quais são os principais problemas de saúde motivados pela extensão da jornada de trabalho, com relatos do trabalho desenvolvido pelo CERST. Entre os relatos, o de um trabalhador de uma lava-rápido (de carros), que tinha jornada de 16 horas diárias e veio a apresentar problemas de saúde como gripes, originados pela longa jornada e pelo pouco tempo de descanso.

A segunda mesa contou com o dr. Luis Mamari, médico do Trabalho e coordenador do grupo de trabalho em saúde ocupacional da CNC, e Dari Beck, da Direção Executiva Nacional da CUT. Mamari apresentou um histórico da NRs (Normas Regulamentadoras) e do Sistema Tripartite do Brasil, apontando os avanços na área da Saúde do Trabalhador, como também o que a Confederação do Comércio vem elaborando e organizando com relação à saúde e segurança no trabalho. Dari apresentou as políticas que a CUT vem implementando junto aos sindicatos filiados e o Projeto de Lei para limitar as hora-extra.

Longas jornadas prejudicam a saúde

Longas jornadas de trabalho atingem fortemente a integridade física e psíquica dos brasileiros. Estudo da CUT e do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) aponta que 43,3% dos empregados dos ramos Metalúrgico, Químico, Vestuário, Transporte e Comércio apresentam algum problema de saúde em função do trabalho. Ao longo de 2005, a central e o instituto consultaram mais de 3 mil trabalhadores para mapear a prática das horas extras no país, incluindo assalariados do Grande ABC.

Do total de trabalhadores que relacionam distúrbios físicos e mentais ao trabalho, 61,9% disseram ter dores musculares. Logo atrás vem o estresse – conjunto de patologias, sinais e sintomas diversos relacionados ao sofrimento mental – com 53,7% das respostas. Em seguida, aparecem distúrbios do sono (29,5%), lesões (17,1%), depressão (16%) e outros problemas (5,6%). A soma das respostas ultrapassa 100% porque os trabalhadores podem reclamar mais de um transtorno.

Embora os dados demandem análises mais aprofundadas – como aponta o relatório final da CUT e do Dieese-, a pesquisa revela que os entrevistados têm nítida percepção dos agravos à saúde provocados pelo trabalho. Para comprovar, basta observar que 67,3% dos trabalhadores associam os problemas físicos ou mentais ao ritmo de trabalho, 37,6% à pressão da chefia, 24,5% ao excesso de horas trabalhadas e 11,6% remetem os problemas de saúde ao assédio moral.

Segundo avaliação do estudo, os resultados mostram também que o diagnóstico de enfermidades relacionadas ao mundo trabalho caminha para proporções epidêmicas. Ilustram essa realidade os casos de LER-DORT (Lesões por Esforços Repetitivos/Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho) – decorrentes de sobrecarga do sistema músculo-esquelético – e os transtornos mentais, com efeitos psicossociais. Nesse contexto, as mulheres são as principais vítimas.

Ao esmiuçar alguns dados da pesquisa, a diferença entre gêneros – masculino e feminino -, além de salarial, também se revela acentuada em questão de saúde. Enquanto 55,7% dos homens apresentam dores musculares, a queixa atinge 70,2% das mulheres. Elas também estão mais deprimidas: 20,4%; contra 12,8% dos homens. Análise de técnicos do Dieese explica as discrepâncias nos índices com base na precarização do trabalho nos setores majoritariamente femininos, como Comércio, Serviço e Vestuário.

Fonte: Agência CUT