Volks demitiu trabalhadores com problemas de saúde em São Bernardo
Em assembléia realizada nesta terça-feira (29), os funcionários da montadora da Volkswagen do Brasil localizada em São Bernardo do Campo acataram a decisão do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC de iniciar imediatamente uma greve por tempo indeterminado. A medida é conseqüência do resultado das negociações entre trabalhadores e a empresa, que não chegaram a um acordo após a ameaça da Volks de fechar a planta de São Bernardo, caso o sindicato não aceitasse a demissão de 3,6 mil funcionários e a redução de direitos trabalhistas daqueles que permanecessem na fábrica.
Pouco antes da assembléia, o departamento de Recursos Humanos da empresa direcionou uma carta de demissão aos trabalhadores ao turno da manhã. O sindicato calcula que 1,3 mil pessoas receberam a carta e era esperado que mais funcionários do período da tarde fossem demitidos. De acordo com o sindicato, essas demissões se referem àquelas que seriam feitas a partir do dia 21 de novembro, data em que se encerra o período de estabilidade acordado entre a empresa e os trabalhadores. Até 1,8 mil funcionários podem ser demitidos. Hoje, a montadora emprega 12 mil pessoas.
Segundo Wagner Santana, coordenador da comissão de fábrica em São Bernardo, não foi possível chegar a um acordo com a Volks pois a proposta da empresa retirava uma série de direitos dos trabalhadores. “Não podemos admitir isso. Se houvesse uma proposta decente, a avaliação seria outra”.
“Qualquer proposta de acordo tem que ter contrapartida positiva para o trabalhador”, afirma o presidente do sindicato dos metalúrgicos, José Lopez Feijóo. Ele diz que o sindicato tentará reverter as demissões anunciadas nesta terça, mas não garante que isso aconteça. “A luta não garante que a fábrica mude de posição, mas sem a luta com certeza ela não vai mudar”, diz. Feijóo considera real a possibilidade de a Volks fechar a planta do ABC.
Reginaldo Ramos da Silva, 50, foi um dos funcionários que recebeu a carta de demissão. Ele afirma que, em 2001, a empresa já tentara demiti-lo, mas acabou sendo mantido após um processo de negociação. Há 16 anos trabalhando como soldador da Volks, Silva perdeu o movimento do seu polegar direito desde 1993 em decorrência da sua função.
Este não é o único caso de trabalhador com problema de saúde que foi demitido. Todos os trabalhadores entrevistados pela Carta Maior e outros que se encontravam presentes na Assembléia apresentavam algum problema médico. “Eu não esperava a demissão. Não ofereceram nada”, afirma Givaldo Luiz dos Santos, 48, também soldador e que tem hérnia de disco, causada pelo peso de 20 a 25 quilos que carrega todos os dias na fábrica há 13 anos. Na semana que vem, Santos sairia de licença médica para realizar a cirurgia na coluna.
Lenivaldo de Souza Targino, 36, é montador da linha de montagem do Pólo e afirma que cerca de 50% dos 1,6 mil trabalhadores do setor receberam a carta de demissão. Assim, como outros trabalhadores, ele tem problemas de saúde: bursite e tendinite por conta dos seus 11 anos de trabalho na empresa. "Dizem que essas demissões são pressão psicológica da Volks nos trabalhadores", afirma Targino.
Apesar de esses funcionários terem desenvolvido o problema de saúde devido às suas funções na Volks, a situação não ainda não havia sido comprovada. A estabilidade trabalhista apenas é garantida se houver ganho de causa na Justiça.
“É preciso a união dos sindicatos, não só dos metalúrgicos, pede Carlos Alberto Grana, presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos e diretor da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Ele afirma que, apesar de a ação e as diretrizes partirem do sindicato local, os demais sindicatos se unirão para fortalecer a luta.“Vai ter enfrentamento com a Volks”, afirma. “Essa ação da empresa caracteriza irresponsabilidade social”, define o presidente da CUT, Artur Henrique da Silva dos Santos.
“A culpada dessa decisão é a própria Volkswagen. Ela não pode culpar a situação do setor, porque o setor está no quarto ano de crescimento”, diz Feijóo, ao lembra que a indústria automobilística cresceu mais 7% neste ano no país no mercado interno. “Está previsto crescimento para o ano que vem, portanto não se trata de uma crise. Se trata de um processo de reestruturação da Volkswagen em que ela quer aumentar a sua lucratividade às custas dos postos de trabalho e dos direitos dos trabalhadores”, conclui.
BNDES
Nesta segunda-feira, após a reunião que a Volks teve com a ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, o ministro Luiz Marinho, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Demian Fiocca, o governo federal decidiu suspender o empréstimo de R$ 497 milhões financiados pelo BNDES devido à ameaça de fechamento da fábrica.
“Pela primeira vez na história, eu vejo um banco público tomar uma atitude correta. Dinheiro público e social, principalmente do BNDES, que 40% é oriundo do FAT, Fundo de Amparo ao Trabalhador, não pode ser dado para uma empresa que está cometendo irresponsabilidade social como a Volkswagen está cometendo neste momento”, afirma Feijóo.
Fonte: Agência Carta Maior