Disputa no RS pode trazer surpresa na reta final?
Lula e Alckmin estiveram no Rio Grande do Sul, sábado. Participaram de várias atividades de campanha de suas candidaturas. A cobertura do jornal Zero Hora, nesta segunda, foi a seguinte: Alckmin ganhou a manchete, uma entrevista exclusiva cujo título é “Invasão cria insegurança jurídica e atrapalha investimento e emprego” (entrevista de mais de quatro páginas em um dia em que o jornal tem um de seus maiores índices de leitura, senão o maior), 5 páginas de cobertura ao todo, 7 fotos.
Já Lula ganhou uma pequena linha na capa chamando para uma entrevista na próxima quinta-feira, menos de uma página de cobertura (somando-se as notas dispersas por várias páginas) e 3 fotos, sendo que, em uma delas, aparece ao lado de Alckmin.
Contando a capa, Zero Hora dedica 16 páginas à cobertura das eleições. Das manchetes dessas páginas, 8 são favoráveis a Alckmin ou contra Lula. Além disso, na página de opinião, há um artigo do ex-senador Paulo Brossard contra a reeleição e crítico ao governo Lula. A única matéria negativa para os tucanos registra em tom sóbrio: “Abel Pereira depõe hoje”. Quando o alvo da investigação da Polícia Federal é alguém ligado ao governo federal o nome de Lula vai para o título da matéria: “Ligações de assessor revelam que Lula sabia, diz oposição”.
Já o Correio do Povo optou por uma cobertura mais equilibrada na distribuição de textos, fotos e manchetes de capa. O destaque de capa é neutro: “Lula e Alckmin elevam tom das críticas”, com fotos dos dois candidatos em tamanho igual. Foi com essa cobertura que os dois principais jornais gaúchos abriram a semana final da campanha no Estado. O privilégio dado a Alckmin na cobertura de Zero Hora contrasta com o que as pesquisas dizem sobre o desempenho dos tucanos no RS. Alckmin e Yeda Crusius lideram as pesquisas de intenções de voto e, aparentemente, não estariam precisando de nenhum tipo de ajuda adicional. Mas nem tudo é tranquilidade no reduto tucano.
O fator PMDB
As duas últimas pesquisas divulgadas no fim de semana apontaram uma redução da vantagem de Yeda Crusius sobre Olívio Dutra, mas a candidata tucana, segundo os institutos de pesquisa, segue com uma vantagem considerável (que oscila entre 15 e 20 pontos; na semana passada era 30%). No levantamento do Correio do Povo, Yeda tem 59,4% contra 40,8 de Olívio. Já no Ibope, a tucana aparece com 62% e Olívio com 38%.
No entanto, nem tudo é tranqüilidade no lado da campanha da coligação Rio Grande Afirmativo. “A luz amarela acendeu no comitê de Yeda”, escreveu nesta segunda o jornalista Políbio Braga, que apóia a candidatura da tucana.
Segundo ele, a pesquisa Correio do Povo mostrou que, nos últimos dez dias, Yeda perdeu 7 pontos que acabaram indo todos para Olívio. “O temor é que o viés de alta de Olívio e o viés de baixa de Yeda acelerem-se”, disse o jornalista. Ele apontou dois fatores que poderiam empurrar a campanha para esta direção: a divisão do PMDB no Estado e o crescimento de Lula em todo o país. Além disso a “a posição esquiva do governador Rigotto” teria dividido o PMDB gaúcho no segundo turno.
Apesar do partido ter declarado apoio a Yeda, Rigotto declarou-se neutro na disputa e nem ele nem nenhum de seus secretários está participando da campanha da candidata. No PMDB gaúcho, há amplos setores que consideraram o comportamento de Yeda no primeiro turno como desleal. Ela apoio o governo Rigotto até o início deste ano. Quando definiu sua candidatura, passou a adotar um discurso de dura oposição. Agora, muitos peemedebistas pensam em dar o troco, mesmo que isso implique em votar no rival petista Olívio Dutra. Segundo Políbio Braga, apenas 25% do PMDB gaúcho está, de fato, apoiando a candidatura de Yeda.
Militância nas ruas
As agendas dos dois candidatos presidenciais tiveram caráter diferenciado. Lula participou de comícios e atos em Alvorada, Canoas e Caxias do Sul, privilegiando o contato direto com a população nas ruas. Já Alckmin participou de um comício no Pepsi On Stage, uma casa de shows localizada perto do aeroporto da capital.
No domingo, em Porto Alegre, as ruas ficaram coloridas com os apoiadores das duas candidaturas. Reduto petista até a derrota nas eleições municipais de 2004, Porto Alegre voltou a ver uma cena que não via há muito tempo: a militância e os simpatizantes da Frente Popular voltaram a sair às ruas com a tradicional bandeira do PT gaúcho (fundo vermelho e estrela amarela). Aparentemente, não estão acreditando na vantagem que os institutos de pesquisa estão dando para Yeda. Os próximos dias dirão qual é a consistência desses números.
Fonte: Marco Aurélio Weissheimer – Agência Carta Maio