Marilena Chauí quebra o silêncio e critica comportamento da mídia
A filósofa Marilena Chauí concedeu na tarde desta quarta-feira, 25/10, entrevista coletiva promovida pelo Sinpro/RS e Jornal Extra Classe na sede estadual do Sindicato. A assessora da Assufrgs esteve presente. Em breve divulgaremos a íntegra da entrevista.
A intelectual quebrou o silêncio que vinha mantendo com a Imprensa ao conversar com jornalistas da imprensa sindical, dos movimentos sociais e imprensa alternativa. A assessora do Sindsepe/Rs esteve presente.
Ela não dá declarações diretamente para grandes veículos desde 2004. Entre outras questões, ela fez uma avaliação da cobertura da grande imprensa sobre o governo e do processo eleitoral. Segundo Marilena Chauí, “o comportamento da imprensa se dá de forma coordenada e perigosamente antidemocrática, beirando o golpismo”.
Confira os destaques:
”Os ataques que a mídia fez ao Lula começaram no dia 2 de janeiro de 2002. Colecionamos os principais jornais e revistas. Raras vezes são ataques a uma ação de governo, mas à pessoa do presidente e às pessoas dos ministros. São ataques pessoais e, no caso do presidente, ataques onde o corte de classe e o preconceito de classe são absolutamente nítidos”.
“Em todos os artigos e entrevistas dos tucanos, o chamado eleitorado de Lula é o eleitorado dos três P: pretos, pardos, pobres. E a afirmação de que ele tem um eleitorado dos não-instruídos. Uma jornalista da Globo escreveu que estava ocorrendo um fenômeno muito interessante, muito curioso e preocupante no Brasil, que é o fato de que ‘o povo estava contra a opinião pública’. A idéia, portanto, é de que a opinião pública é propriedade de um conjunto de intelectuais, de jornalistas, de empresários detentores da verdade sobre a realidade social e política”.
“(…) um governo que do ponto de vista da própria esquerda deixa muito a desejar. Não é o governo dos nossos sonhos. No entanto, do ponto de vista da direita, é mais do que o povo brasileiro merece”.
“A única solução é uma mídia alternativa, que esse governo não tem e que precisa criar. Em resumo: nada a fazer em relação ao comportamento da mídia. A não ser o que eu tenho feito, que é a crítica. Não me relaciono com a mídia. Não dou entrevistas, não vou a rádios, não vou às emissoras de tevê, não escrevo nos jornais. Eu não quero. A minha liberdade determina que eu não faço isso e que eles não são meus soberanos. Podem ter o império que eles quiserem, mas sobre mim eles não têm.”
“A política de cotas não é uma concessão do governo, mas uma conquista da cidadania e dos movimentos sociais. Do ponto de vista cultural, as cotas quebram um privilégio que as elites julgavam ter sobre o ensino superior.”
Palestra
Marilena Chauí apresentou nesta quarta-feira, 25, às 20h, no auditório da Faculdade dos Meios de Comunicação (Famecos), da PUCRS, a palestra "A Filosofia no Ensino Médio". O evento foi promovido pela Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da PUCRS, com apoio da Addpuc e do Sinpro/RS.
Professora de Filosofia Política e História da Filosofia Moderna da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), é autora de diversos livros, a exemplo de “O que é Ideologia”, “Repressão Sexual”, “Da Realidade sem Mistérios ao Mistério do Mundo”, “Brasil: Mito Fundador e Sociedade Autoritária”, “Professoras na Cozinha”, “Introdução à História da Filosofia”, “Experiência do Pensamento”, “Escritos Sobre a Universidade”, “Filosofia: Volume Único”, “Política em Espinosa”.
Além da produção acadêmica, destaca-se pela participação no contexto do pensamento e da política brasileira. Foi secretária municipal da Cultura de São Paulo durante o mandato de Luísa Erundina (1988-1992). Junto com o geógrafo Milton Santos e o poeta e crítico Ferreira Gullar, notabilizou-se pelo esforço para tirar a discussão filosófica do círculo elitista da academia.