TV que apoiou o golpe sai do ar na Venezuela
À meia-noite do domingo (27), o monopólio privado das comunicações na Venezuela sofreu um golpe: o sinal das transmissões da Radio Caracas Televisión (RCTV), maior rede de televisão do país, saiu do ar. O presidente venezuelano Hugo Chávez decidiu não renovar a concessão pública do canal, que foi o principal porta-voz das forças políticas que tentaram, sem sucesso, executar um golpe de Estado em 2002 (leia mais). Quando Chávez reestabeleceu o controle do poder Executivo, a emissora se negou a noticiar o fato.
O Tribunal de Justiça Venezuelano determinou que os equipamentos da RCTV passarão a ser controlados pela Comissão Nacional de Telecomunicações, que tem autoridade para destinar a infra-estrutura para uma outra emissora. Mesmo sem a infra-estrutura, a RCTV demonstrou que ainda possui um grande força econômica e anunciou que pretende manter – e criar outros – canais de televisão a cabo.
Nos primeiros minutos do dia 27, em vez da programação normal do canal, era possível ver na tela o logo da Televisora Venezuelana Social (TVes), nova rede estatal que substituirá a RCTV. Após 21 minutos, o novo canal exibiu o Hino Nacional Venezuelano, executado ao vivo pela Orquestra Sinfônica Juvenil de Caracas, no Teatro Teresa Carraño (assista aqui).
A TVes iniciou seus trabalhos com com uma abrangência semelhante à da RCTV. O governo destinou US$ 4 milhões para a emissora. A diretora do novo canal de televisão, Lil Rodriguez, agradeceu ao presidente Chávez pela solidariadade aos "criadores e criadoras" da TVes explicou qual deve ser o papel da nova emissora, mais focada na prestação de serviços. "Aqui estamos para reivindicar a cultura e a recreação. Agora temos um novo recurso para desenvolver os conceitos dignos da pátria", afirmou Rodriguez.
Manifestações
Alguns manifestantes se reuniram em frente à agora ex-sede da RCTV, para protestar contra o fim da rede, sob o slogan “A vida é uma novela” (em referência às novelas produzidas pelo canal). Houve confrontos com a polícia que estava desarmada, como determinou o presidente Chávez. Partidários da Revolução Bolivariana demonstraram, por sua vez, seu apoio à decisão em frente ao Ministério das Comunicações, no sábado (dia 26).
A imprensa corporativa brasileira e mundial, da qual boa parte sobrevive graças à concessão pública, tem feito uma campanha baseada na emoção, a fim de colocar a opinião pública contra a medida de Húgo Chávez. Imagens de funcionários da RCTV chorando têm sido divulgadas exaustivamente desde que a emissora saiu do ar. "Apóio a decisao do governo porque não podemos ser coniventes com uma programação que incita à violência e hábitos consumistas. Hoje, cortamos o câncer que vinha consumindo a sociedade venezuelana", afirmou o taxista Wilfredo Gonzalez.
O governo anunciou que os trabalhadores da RCTV podem ser muito bem absorvidos nos demais canais de televisão e órgãos de imprensa do país. Diante das declarações de Washington e do Parlamento Europeu, que condenaram a postura do governo venezuelano, a diretora e Responsabilidade Social do Ministério das Comunicações, María Alejandra Díaz, pediu “respeito às instituições venezuelanas”.
Programação
Espaços cinematográficos, científicos, infantis, variedades e notícias se combinam na programação da primeira semana da TVes. Um jornal telediário abrirá a grade matutina de segunda-feira a sexta-feira, seguido depois com a veiculação de manifestações de cultura venezuelana que incluem música, canto, dança, artes plásticas e festas populares.
A intenção de educar por meio do entretenimento estará presente na programação que reproduzirá documentários feitos pela National Geographic. A TVes transmitirá também um jornal de esportes ao meio-dia e no final das tardes. Para as crianças, o canal veiculará nesta semana clássicos como Pinochio e As Aventuras de Moby Dick, entre outros. A primeira série a ser transmitida será a argentina Padre Coraje.
Fonte: Brasil de Fato/Com agências internacionais