Organizadores prevêem 6 milhões de votos em Plebiscito da Vale
Durante os dias 1 a 9 de setembro, brasileiros participaram de um processo de educação popular que questionava a privatização da Companhia Vale do Rio Doce e estimulava a democracia direta. Foram mais de 35 mil urnas espalhadas nos 27 Estados e 80 mil voluntários em todo o Brasil.
A expectativa é que mais de 6 milhões de pessoas tenham dado seu voto, questionando a privatização da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), mineradora brasileira vendida pelos parcos R$ 3,3 bilhões em 1997, quando seu valor era estimado em mais de R$ 92 bilhões. Durante os próximos dias, a tarefa dos comitês estaduais do plebiscito se concentra na contagem de votos para que, no próximo dia 25, os resultados sejam entregues aos três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), além do Superior Tribunal de Justiça em Brasília.
De acordo com o membro da secretaria do Serviço Pastoral dos Migrantes e da coordenação do Grito dos Excluídos Continental, Luiz Basségio, o processo, enquanto forma pedagógica de se exercer a cidadania e fazer a discussão política, está sendo uma escola de educação popular. “Conseguiu-se juntar os movimentos sociais, os partidos, seja qual for a tendência, e estabelecer uma parceria muito grande neste processo de democracia participativa”, explicou.
A colocação deste tema dentro do debate público também é um fator considerado importante. Segundo uma das articuladoras do Jubileu Sul-Brasil, Rosilene Wansetto, aproximar-se de espaços de difíceis diálogos demonstra a grande vitória deste plebiscito. “Intelectuais, artistas, todos contribuíram para o processo de mobilização popular durante o plebiscito”, afirmou.
A unidade do conjunto da esquerda brasileira, incluindo partidos políticos e o Movimento Estudantil também foi celebrada pelo membro da Consulta Popular em Curitiba (PR), Waldemar Simão. “Aqui, tivemos a participação do governo do Estado que possibilitou que as escolas também estivessem no processo. Foi importante essa reunificação de vários atores, inclusive os professores que levaram o debate para a sala de aula”, disse.
Além da pergunta sobre a privatização da CVDR, os temas sobre dívida pública, preço da energia elétrica e previdência social também foram debatidos e votados pela sociedade brasileira. Em algumas localidades, como no Rio Grande do Sul, perguntas locais foram adicionadas. No caso gaúcho, o pedágio nas estradas estaduais foi questionado pelo plebiscito popular.
Grito
Para Basségio, o ponto culminante de toda campanha realizada pelo conjunto de entidades que organizaram o plebiscito foi o Dia da Independência do Brasil, o 7 de setembro e o conjunto das manifestações do 13° Grito dos Excluídos. O Grito reuniu em todo o País pelo menos 212 mil pessoas que levaram o tema “Isto Não Vale! Queremos Participação no Destino da Nação” e denunciaram todo o processo de privatização da CVRD.
“Foi um momento muito forte com o Grito dos Excluídos. O Grito cresceu e se expande cada vez mais e recebe a adesão cada vez maior da sociedade brasileira, independentemente se a pessoa participa de algum movimento social”, avaliou.
O Estado de São Paulo foi o que reuniu o maio número de manifestantes. Segundo a organização, mais de 95 mil pessoas em Aparecida, somaram-se aos 13 mil na capital para fazer o protesto e votar nas perguntas do plebiscito. Em João Pessoa, capital paraibana, cerca de 1,5 mil pessoas participaram da manifestação que foi barrada pela Polícia Militar. Caso semelhante aconteceu em Brasília, cujo manifestantes foram impedidos de maneira truculenta pela Polícia Militar de seguir a manifestação na Esplanada dos Ministérios. O carro que distribuia água para os manifestantes chegou a ser multado pelo Detran-DF sem motivos aparentes.
Fonte: Mayrá Lima, Jornal Brasil de Fato.
Foto: Leonardo Melgarejo, Grito dos Excluídos 2007 em Porto Alegre.