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População mundial quer medidas contra a mudança climática, revela pesquisa

A rede de radio e televisão britanica BBC divulgou na terça-feira (25) uma pesquisa mostrando que dois terços dos entrevistados em 21 países consideram necessário tomar rapidamente “grandes medidas” contra o aquecimento global. O resultado do estudo é conhecido em uma semana pródiga em conferencias internacionais sobre mudança climática que acontecem quase simultaneamente. A pesquisa, que incluiu virtualmente todos os grandes emissores de gases causadores do efeito estufa, entre eles Estados Unidos, China e Índia, concluiu que uma média de oito em cada 10 entrevistados concordam que “a atividade humana, incluindo indústria e transporte, é uma causa significativa da mudança climática”.

Quase três em cada quatro entrevistados afirmaram acreditar que os países em desenvolvimento, que historicamente contribuíram pouco com o fenômeno, deveriam ser obrigados a limitar suas emissões no futuro, de preferência em troca de ajuda para a economia de energia e tecnologia do Norte industrial. “O público nos países em desenvolvimento e nos industrializados concordam que são necessárias ações sobre mudança climática”, disse Steven Kull, diretor do Programa sobre Atitudes Políticas Internacionais (Pipa) da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, que fez o estudo junto com o instituto GlobeScan.

De fato, 90% dos entrevistados na China apoiaram esse enfoque. O gigante asiático ultrapassará em 2009 os Estados Unidos como maior emissor de gases que provocam o efeito estufa, segundo a Agência Internacional de Energia. Sete em cada 10 entrevistados chineses se manifestaram favoráveis à adoção rápida de “grandes medidas” para combater o aquecimento do planeta, 11 mais do que a proporção de norte-americanos que responderam à mesma pergunta. A pesquisa, na qual foram entrevistadas 22 mil pessoas entre maio e julho, foi divulgado num momento em que os chefes de Estado e de governo de aproximadamente 80 países se dirigem à Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas para examinar as medidas contra a mudança climática a pedido do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.

O presidente norte-americano, George W. Bush, que retirou a assinatura de seu país do Protocolo de Kyoto contra o aquecimento do planeta tão logo assumiu o governo em 2001, manteve-se à margem da sessão, embora tenha participado de atividades mais privadas. Bush, que se opõem às restrições obrigatórias das emissões de gases que causam o efeito estufa, convocou outra reunião, de dois dias, sobre o assunto para o final da semana, com representantes de 16 países, entre eles as grandes economias européias, mais Brasil, México, Japão, China, Índia e Indonésia. As nações representadas nesta reunião representam 90% das emissões mundiais, e seus delegados examinarão a possibilidade de estabelecer objetivos voluntários para reduzi-las.

Bush, que na medida em que transcorria sua presidência parecia aceitar pouco a pouco que o aquecimento do planeta tem causas humanas, rechaça o Protocolo de Kyoto porque entende que representa um alto custo para a economia de seu país. Também se opõe a que o Protocolo seja aplicado unicamente aos países industrializados e não às nações pobres, entre os quais se encontram economias em crescimento acelerado que são grandes emissoras, como China e Índia.

Mas os países do Sul e os defensores do Protocolo de Kyoto acrescentam que estas nações não são tão responsáveis pela atual fase de aquecimento quanto as ricas, que emitiram grande quantidade de gases causadores do efeito estufa desde o início da Revolução Industrial. Além disso, alertam que as emissões por habitante no Sul continuam sendo extremamente mais baixas do que as dos países industriais, especialmente Estados Unidos e Austrália, os únicos dois do Norte que rechaçaram o Protocolo de Kyoto.
A pesquisa ouviu pessoas em 10 países industrializados (Alemanha, Austrália, Canadá, Coréia do Sul, Espanha, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Itália e Rússia) e 11 nações em desenvolvimento (Brasil, Chile, China, Egito, Filipinas, Índia, Indonésia, Quênia, México, Nigéria e Turquia). Em 18 desses países, incluindo nove dos 11 em desenvolvimento, para uma maioria de entrevistados “os países menos ricos com emissões substanciais e crescentes deveriam limitá-las da mesma maneira que os ricos”.

“Para nós, especialistas em opinião pública, o resultado da pesquisa nos diz que este problema é muito sentido e que muitos destes países, particularmente a China, vêem a si mesmos como potências emergentes que deveriam ser ativas nestas áreas”, disse à IPS o presidente da GlobeScan, Doug Miller. Este resultado, por outro lado, sugere que as negociações desta semana transcorrerão em um clima bom, acrescentou. Quase 70% dos entrevistados na América Latina e China, em média, consideram que os países em desenvolvimento deveriam reduzir suas emissões. No Egito, na Nigéria e Itália houve maiorias que indicaram o contrário.

Fonte: Jim Lobe, da IPS/Envolverde