As cotas e o reacionário Dacanal, artigo de José Luís Rockenbach (Neco)
Veja abaixo artigo em resposta a matéria assinada pelo Sr. J.H. Dacanal, em uma publicação de gosto duvidoso, datada de dezembro de 2007 intitulada “Caderno D”, que tem sido distribuído amplamente na comunidade universitária:
Justamente no momento que a Ufrgs passa pelo processo sucessório à reitoria, tem sido distribuído amplamente na comunidade universitária uma publicação de gosto duvidoso, datada de dezembro de 2007 intitulada “Caderno D”.
Nela chama a atenção matéria assinada pelo Sr. J.H. Dacanal, que se intitula economista e jornalista, atacando de maneira raivosa como um pitbull descontrolado as políticas de ações afirmativas implementadas em diversas universidades públicas como é o caso da Ufrgs, como que a fazer propaganda para determinado candidato que não tem coragem de explicitar sua posição contrária às cotas.
Tal artigo tem o objetivo central de combater as cotas sociais e raciais. Às vezes com argumentos professorais pretensamente embasados na ciência, outras, através do simples xingamento, linguagem chula, imputação de rótulos e uso de afirmações sem um mínimo de veracidade histórica ou factual.
Ao estilo da propaganda nazista e de nossa grande mídia, de fazer crer em uma idéia como sendo verdade pela repetição incessante da mesma, cita inúmeras vezes e de maneira desdenhosa o revolucionário Lênin¹ e os que ele caracteriza como leninistas, como sendo totalitários e mensaleiros, e os defensores das cotas seus seguidores. Estes últimos alcunhados de inocentes-úteis, imbecis, ignorantes e por fim, pasmem, racistas.
Segundo este “grande teórico” o objetivo maior destas “viúvas de Lênin” seria o “de criar áreas de conflito na sociedade brasileira” para substituir o “louco projeto revolucionário” que teria falido com o advento do governo Lula, e complementarmente “fidelizar alguns clientes (os cotistas), que no futuro poderão ser companheiros de viagem – e controlar recursos! – na Universidade e em outros setores da sociedade”.
Teoria interessante, com a profundidade de um pires!
Dacanal em sua saga anti-cotista, talvez para confundir os incautos, no corpo de sua missiva defende a autonomia universitária, critica a privatização “branca” da academia e as fundações de apoio- bandeiras históricas dos movimentos docente, estudantil e técnico-administrativo. Da ares de repúdio ao imperialismo norte americano e combate vigorosamente a tese multiculturalista que a muito é rejeitada pelos verdadeiros revolucionários ( inclusive os leninistas ) que sabem do viés pós-moderno ao gosto neoliberal desta proposta “filosófica”.
Porém este “grande” jornalista “morre pela boca” e se desmascara, quando afirmar que a crise da universidade se deve ao inchasso monstruoso de seus quadros nas últimas décadas, em absoluta contradição com a realidade de diminuição em números absolutos e relativos de seus servidores. Quando ataca o movimento sindical como sendo “ensandecido e maléfico”, demonstrando sua repulsa a livre organização dos trabalhadores. E por fim quando lamenta que a reforma universitária dos militares (patrocinada pelos EUA) ficou inacabada e que para combater a desigualdade social deve-se implantar o ensino pago nas instituições públicas. Trata-se de um grosseiro reacionário.
Não falaremos aqui de seus argumentos baseados na bíblia (gálatas 3,28 ; livro de Ezequiel ), nem sobre suas invencionices sobre o que teria dito Lênin em obras ao eventos, pelo ridíulo de tais afirmações.
Vamos à questão das cotas!
Em primeiro lugar a política de cotas é uma medida de caráter provisório, que prevê avaliação periódica e visa corrigir e /ou amenizar a desigualdade social e racial da sociedade brasileira no sentido democrático mais amplo. Desigualdade que não é uma ficção, mas uma realidade constatada por levantamentos científicos do IBGE e inúmeros outros órgão de pesquisa inclusive a própria universidade.
Segundo, apesar de ser verdade que não existem raças humanas do ponto de vista biológico, o racismo existe, de forma aberta ou velada, ascentado na formação histórico-cultural brasileira, onde por quase 400 anos a economia foi baseada na espoliação indígena e no escravismo negro, e quando do fim deste iníquo regime, aos descendentes de africanos cativos não foram garantidas sequer terra, quanto mais outros direitos fundamentais.
E por último, apesar do bombardeio midiático feito em especial por ZH (grupo RBS) – que, aliás, Dacanal acha ter sido tímido- contra as ações afirmativas a Ufrgs a partir de sua comunidade e ouvindo a sociedade, soube tomar uma decisão corajosa e exercer de fato o preceito da autonomia.
Queria registrar por fim, que ao lado de tantos outros lutadores, eu e os leninistas sinceros defendemos sim as políticas de ações afirmativas como forma de aproximação da bandeira da igualdade. Porém, não alimentamos ilusões de que essas importantes medidas sejam a panacéia para os graves problemas sociais do Brasil. Ao contrário, para o desgosto dos Dacanais da vida, continuaremos lutando pela revolução político social que mais dia menos dia virá para construir o socialismo e emancipar todos excluídos.
¹Lênin foi o principal dirigente da primeira revolução socialista vitoriosa no mundo a experiência socialista soviética.
²As citações em itálico entre aspas são uma reprodução textual do escrito de Dacanal no caderno D.
José Luís Rockenbach Neco
Coordenador geral da ASSUFRGS