Com o governo aos frangalhos, Yeda desafia: “me mostrem que o povo gaúcho não confia no meu governo”
– Ele era captador de recursos de sua campanha? A pergunta do jornalista sobre a atuação de Lair Ferst na campanha eleitoral de 2006 ficou sem resposta.
Yeda Crusius ouviu a indagação, silenciou e se retirou do salão onde ocorria a entrevista coletiva, acompanhada de seu porta-voz, Paulo Fona. Os jornalistas tentaram se aproximar da governadora. Não conseguiram. Foram colocados numa posição distante da mesma, separados por um cordão de segurança. Na entrevista, realizada na tarde deste sábado, no Palácio Piratini, a governadora anunciou as demissões do chefe da Casa Civil, Cézar Busatto, do secretário-geral de governo, Delson Martini, do “embaixador” do Rio Grande do Sul em Brasília, Marcelo Cavalcante, e do comandante geral da Brigada Militar, coronel Nilton Bueno.
Yeda manifestou indignação com o comportamento do vice-governador Paulo Feijó e disse que a “fala gravada não tem valor ético ou moral”. Yeda classificou como absurdo o conteúdo da carta escrita para ela por Lair Ferst e encaminhada pelo mesmo a Marcelo Cavalcante. “Marcelo fez o que devia ter feito”, disse categoricamente, sem explicar, porém, por que é mesmo que o “embaixador” gaúcho foi demitido.
A governadora tampouco explicou as razões das demissões de Busatto, Martini e Nilton Bueno. Se todos “fizeram o que devia ser feito” e a gravação da conversa de Feijó e Busatto não tem valor ético ou moral, por que é mesmo que as demissões ocorreram? Yeda iniciou a coletiva lendo, em um papel, os pontos que devia abordar. Estava distante, procurando aparentar tranqüilidade em meio à grave crise política e institucional que se abateu sobre o Palácio Piratini. Anunciou as demissões e defendeu o seu governo, afirmando que “as notícias são as mais positivas possíveis no campo da administração”. “Consultei muita gente, meu Conselho Político; por isso tanta tranqüilidade para enfrentar a crise”. Mas, “tranqüilidade” não é exatamente a palavra para definir o comportamento de Yeda na coletiva. Como já fez em ocasiões anteriores, repetiu afirmações confusas e sem sentido.
Indagada sobre se Marcelo Cavalcante teria prevaricado ao, supostamente, não comunicar a ela o teor da carta de Lair Ferst, Yeda respondeu: “Fui criada como mulher. Esse termo ‘prevaricar’ é complicado”. Sobre a saída de Busatto, defendeu o comportamento do mesmo: “Todos conhecem Busatto. É um homem espiritualista. Ele foi em missão de paz”. Segundo ela, o agora ex-chefe da Casa Civil não a avisou que iria conversar com Feijó. A governadora disse ainda que tem “dormido muito bem, com a consciência alertada” (traduzindo: se está com a consciência alertada o tempo todo, não tem dormido).
Uma outra resposta insólita apareceu por ocasião de uma pergunta relacionada à conversa entre o ex-diretor da CEEE, Antônio Dorneu Maciel, e o ex-presidente do Detran, Flávio Vaz Netto, sobre uma ida a Expointer para pedir a orientação da governadora sobre o que fazer com “o problema Lair Ferst". Yeda desconversou e disse que ele (Vaz Netto) não precisava ir a Expointer para conversar com ela. E logo em seguida, emendou: “Ele teve a oportunidade de ir a Expointer e ver uma das melhores feiras que temos”. (???)
Yeda também lançou um desafio na coletiva: “Me mostrem que o povo gaúcho não confia no meu governo. E não joguem no meu colo um filho que não é meu”. Um desafio de alto risco para a governadora a julgar pelas mais recentes pesquisas de opinião que indicam um alto grau de desaprovação. Outra afirmação arriscada foi feita no que diz respeito às contas de sua campanha eleitoral. Yeda disse que não entrou nenhum recurso de empresas públicas ou qualquer recurso ilícito em sua campanha. “Todos sabem que não foi uma campanha bilionária. O que está na nossa prestação de contas é o que foi financiado”.
Perguntada sobre sua relação com Lair Ferst, voltou a dizer que é uma relação de militância política no PSDB. “A proximidade que a gente tem é muito natural; o amor que a gente tem com a Deise (Deise Nunes, ex-miss Brasil, esposa de Lair). Segundo ela, ele foi apenas mais um militante na campanha. “Esteve perto, segurou bandeira”. Yeda, porém, não segurou a pergunta sobre a participação do empresário-militante na captação de recursos. A coletiva terminou ali. Sem resposta.
Por Marco Aurélio Weissheimer/Blog RS Urgente