“Somos a sociedade mais desigual do mundo”, afirma João Pedro Stédile
João Pedro Stédile
O Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA) apresentou um importante estudo sobre a distribuição de renda no Brasil, com dados atualizados até 2007. Honra e mérito ao seu presidente economista Marcio Pochmann, que é um especialsita do tema. Mas a imprensa, ao divulgar, fez verso e prosa para dizer que a desigualdade social no Brasil estava diminuindo. Ledo engano. Afinal, como aprendi na faculdade, os economistas somos especialistas em manipular estatísticas.
Vejam o que mudou. Em 2003, o rendimento médio dos dez por cento que ganham salários mais altos era de R$ 4.620. Passou para R$ 4.850 em 2007. Os dez por cento de trabalhadores mais pobres que ganhavam menos, passaram de R$ 169 para R$ 206 em média, por mês, em 2007. A desigualdade entre os assalariados, de fato caiu, de 27,3 vezes entre os mais bem pagos e os menos pagos, para 23,5 vezes. Mas ainda ainda assim é uma vergonha.
No entanto, não é isso que mede a desigualdade social e a renda. Isso mede apenas entre os que ganham salários. Mas não inclui a renda de lucro, juros, alugueis, redimento de açoes, royalties,etc.
A verdadeira distribuição de renda na sociedade se mede, pela comparação de toda riqueza produzida num ano: o PIB. E como ela é distribuída. Pois bem, na década de 60, o trabalho ficava com 50% de tudo o que se produzia e 50% para o capital. Em 2003, o trabalho ficou com apenas 39,8 % e o capital 60,2%, e agora em 2007, o trabalho ficou com 39,1% e o capital subiu ainda mais para 60,9% de tudo o que se produz no Brasil. E do jeito que os bancos e as empresas transnacionais andam ganhando dinheiro, certamente vamos chegar em 2010, com uma diferença ainda maior.
Lamentavelmente, sai governo, entra governo e o Brasil continua sendo a sociedade mais injusta do planeta.
Fonte: Jornal O DIA, Rio de Janeiro, 25 de junho – colunistas.
ENQUANTO ISSO…
Brasil tem 23 mil novos milionários
Em 2007, número de pessoas com fortuna acima de US$ 1 milhão cresceu 19,1%, para 143 mil, diz estudo
Ricardo Leopoldo
Vinte e três mil novos brasileiros entraram para o clube dos milionários no ano passado. Agora, são 143 mil pessoas com fortuna acima de US$ 1 milhão – 19,16% a mais que no ano anterior, que já havia registrado um forte avanço. Os dados são do 12º Relatório Anual sobre a Riqueza Mundial, realizado pela Merrill Lynch e CapGemini.
O Brasil foi o terceiro país do mundo com o maior crescimento do número milionários, graças a um ambiente econômico mais estável e propício para os negócios. A economia cresceu 5,4%, os investimentos das empresas aumentaram e o mercado acionário explodiu.
A Bolsa de Valores de São Paulo fez uma nova geração de ricos – de investidores pessoa física a empresários que venderam ações de suas empresas. Em 2007, o Ibovespa acumulou alta de 43,6%, após superar por 43 vezes suas máximas históricas de pontuação. No ano, 64 empresas abriram capital (40 a mais que em 2006) e levantaram R$ 55,5 bilhões. Parte desse dinheiro foi para o bolso dos acionistas.
O número de pessoas que possuem grandes fortunas no País subiu de 120 mil em 2006 para 143 mil no ano passado. “Os fluxos líquidos de capital privado duplicaram para a América Latina em 2007, contribuindo para o fato de a Bovespa ter alcançado a quarta posição no ranking entre os maiores mercados mundiais para operações de abertura de capital (IPOs).” Isso, de acordo com o relatório, deu suporte para o estabelecimento e integração global do sistema financeiro brasileiro, informaram as duas instituições responsáveis pelo estudo por meio de um comunicado.
A América Latina, ainda segundo o documento, registrou um aumento de 12% em 2007 ante 2006 no número de pessoas com grandes fortunas, conhecido pela sigla em inglês de HNWIs (High Net Worth Individuals). No caso do Brasil, os principais fatores que contribuíram para o incremento do total de cidadãos que possuem ativos financeiros acima de US$ 1 milhão foi o avanço do consumo interno.
O estudo destaca que o desenvolvimento de obras em infra-estrutura e incentivos do governo para o setor de construção civil, como a queda de impostos sobre materiais de construção, geraram um “boom” do segmento no País.
A Merrill Lynch e CapGemini ressaltam que também colaboraram a redução do desemprego e a valorização do câmbio, que diminuiu os custos de importações de máquinas e bens de consumo. Os juros elevados também foram um fator atraente para o aumento dos investimentos, especialmente em aplicações de renda fixa.
As receitas externas obtidas com as exportações ajudaram a melhorar os fundamentos macroeconômicos do Brasil, pois geraram superávits comerciais que contribuíram para o avanço das reservas cambiais, que estão em US$ 198,86 bilhões.
Mundo
Em todo o mundo, o número de pessoas que possuem pelo menos US$ 1 milhão em ativos financeiros subiu 9,4% no ano passado, atingindo o montante total de US$ 40,7 trilhões. O número de milionários no planeta já chega a 10,1 milhões de pessoas, um incremento de 6% sobre o total apurado pela pesquisa realizada em 2006.
O estudo apontou também que a média de recursos em poder de cada uma dessas pessoas superou os US$ 4 milhões pela primeira vez, e indicou que subiu 8,8% o número de pessoas que possuem fortunas superiores a US$ 30 milhões em aplicações financeiras.
O estudo projeta que o montante de riquezas apuradas pelas pessoas com grandes patrimônios financeiros deve crescer a uma taxa média anual de 7,7% até 2012, quando deve atingir um volume global de US$ 59,1 trilhões.
Avanços em 2007
143 mil
brasileiros tinham fortuna acima de US$ 1 milhão
19,16%
foi o crescimento do número de milionários ante 2006
12%
foi o crescimento do número de milionários na América Latina em relação ao ano anterior
5,4%
foi o crescimento da economia brasileira
43,6%
foi a valorização do Ibovespa, após superar 43 vezes suas máximas históricas de pontuação
64 empresas
abriram capital na Bolsa de Valores de São Paulo
Fonte: O Estado de S. Paulo, 25 de junho de 2008