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Compre o livro História das Lutas dos Trabalhadores na Assufrgs

O livro "História das Lutas dos Trabalhadores do Brasil", de Vito Giannotti, está a venda no setor de convênios da Assufrgs. O preço do livro é R$ 30,00 e pode ser descontada em até duas vezes.

Veja abaixo, uma entrevista do autor sobre o livro:

Ex-estudante de Filosofia, Vito Giannotti saiu da Itália nos anos 60, percorreu o mundo e acabou se estabelecendo no Brasil, onde, por 25 anos, trabalhou como metalúrgico, em São Paulo. A convivência com a classe operária mostrou-lhe a necessidade de uma comunicação popular, em linguagem simples e acessível, voltada exclusivamente para os trabalhadores, como mecanismo de luta, conscientização política e transformação social.

Vito é autor de mais de duas dezenas de livros sobre sindicalismo e comunicação e está lançando História das Lutas dos Trabalhadores no Brasil (leia aqui). Nesta entrevista, Vito Giannotti conta, em detalhes, as motivações que o levaram a escrever este livro e, é claro, nos fala de suas grandes paixões pela classe que abraçou e pela comunicação popular.

Ligia Coelho – O que o motivou a escrever o livro?
Vito Giannotti – Já tinha escrito vários outros livros menores sobre este mesmo tema. O primeiro, em 1970; o segundo, em 1980, um lançamento da Vozes, intitulado Cem Anos de Luta Operária. Teve duas edições. A segunda, com dez mil exemplares, rapidamente esgotados. Muitos colegas, companheiros com quem militei e trabalhei, e alunos dos cursos do NPC, me pedem este livro, do qual me restou apenas um exemplar. Além disso, constatei que não existe, no Brasil, um compêndio que conte a história dos trabalhadores brasileiros. Existem, sim, ótimos livros que narram episódios, momentos históricos, mas nenhum que narre a luta dos trabalhadores brasileiros, desde suas origens até os dias de hoje, em linguagem clara, resumida e compreensível para qualquer trabalhador que tenha, no máximo, oito ou dez anos de estudo. Passei então a pesquisar e o resultado é este livro de 320 páginas. Gostaria que fosse menor, mas não foi possível. É muita informação.

LC – Quais as maiores dificuldades que você encontrou?
VG – Resumir as informações, procurar passar o essencial para quem leu pouquíssimo sobre a história dos trabalhadores ou nunca leu nada. Informações sólidas e suficientes, embora reduzidas, para quem não tem o hábito de ler.

LC – Como conseguiu isso?
VG – Primeiro: redigindo frases curtas, com vocabulário o mais simples possível, usado no dia-a-dia. Frases de, no máximo, 30 palavras. Segundo: evitei citações. Embora tenha pesquisado em mais de 500 livros, fora jornais e outros periódicos, não fiz citações, para não tornar a leitura enfadonha. Finalmente, não utilizei notas de pé de página. Quando terminei o livro, pedi para um amigo, que não terminou o ensino médio, para que lesse e indicasse todas as passagens que não entendeu e palavras que não conhecia. Ele apontou 850 palavras. Foram todas substituídas. Tive que fazer um esforço de traduzir, sem empobrecer o texto, muitas palavras como: detentores (donos), cárcere (prisão), fictício (inventado), taxados de (chamados de), deflagrar (detonar), adulterado (falsificado) e muitas outras.

LC – Num livro dessa natureza – uma pesquisa tão minuciosa, num acervo de mais de 500 livros – o autor não corre o risco de incorrer em erros, equívocos, imprecisões? O que você fez para minimizar isso?
VG – Para evitar esse problema o livro foi revisado (sob o ponto de vista histórico) por oito pessoas diferentes – doutores em História, pesquisadores, historiadores, jornalistas. É claro que algumas imprecisões podem acontecer, mas procurei oferecer informações seguras das várias fontes em que pesquisei. Afinal, foram dez anos de trabalho. Na época do impeachment de Collor escrevi, em apenas 12 dias, Collor, a CUT e a Pizza, que teve duas edições rapidamente esgotadas. Mas, com este, tive que ter muito mais cuidados.

LC – Deixando de lado as dificuldades, quais as curiosidades que você descobriu ao fazer o livro – fatos inéditos ou pouco conhecidos, aspectos interessantes que gostaria de destacar?
VG – Registro alguns fatos muito pouco conhecidos. Por exemplo: descobri que em 1907 houve uma greve dos trabalhadores que construíam a linha ferroviária Estrada de Ferro Sul, em Cachoeiro do Itapemirim (ES). A greve durou uma semana. No último dia, a polícia reprimiu violentamente o movimento e matou 72 trabalhadores. O fato foi noticiado de forma muito discreta no Jornal do Commercio do Rio de Janeiro, no dia seguinte ao acontecimento. Uma nota pequena, sem o nome de nenhuma das vítimas. O jornal está guardado no Arquivo Nacional. Creio que não existem, hoje, no Brasil, 50 pessoas que conheçam esse fato.

Um outro fato que merece registro: em 5 de julho de 1962, os sindicatos liderados pelo PCB e pela ala esquerda do PTB convocaram uma greve geral por aumento de salário. Aqui no Rio, na Baixada Fluminense (sobretudo em Duque de Caxias e São João de Meriti) os trabalhadores famintos atacaram supermercados em busca de alimentos. A polícia investiu contra eles, feriu mais de cinco mil pessoas e matou 43. O registro é do jornal Última Hora, publicado em 6 de julho. Também consta do acervo do Arquivo Nacional.

Outro fato pouco conhecido: em maio de 1906, ferroviários de Jundiaí, interior de São Paulo, entraram em greve reivindicando redução da jornada de trabalho para oito horas diárias. Doze grevistas foram fuzilados pela polícia, encostados num barranco.

Minha intenção não é fazer um necrológio da classe trabalhadora, ou apontar mártires, mas esses são fatos desconhecidos, pouco conhecidos ou relegados ao esquecimento, que precisamos resgatar. Quero combater a visão predominante nas escolas, na mídia e na sociedade em geral de que o povo brasileiro é pacífico/passivo, despolitizado, que não luta. A idéia de Gilberto Freyre, a da “índole pacífica” do povo brasileiro, é um mito. No livro quero combater a balela da tal “cordialidade” do nosso povo que só serve para perpetuar a alienação e o desinteresse pela política. Insinua que o brasileiro só quer saber de samba, futebol, carnaval e mulher. É um mito, que rebaixa a auto-estima do brasileiro e o subestima como povo. Em 1968, a repressão da ditadura militar matou sete manifestantes em passeatas e atos públicos. E as pessoas iam às manifestações mesmo sabendo dos riscos que corriam, o que derruba o mito da passividade do brasileiro.

LC – Todos esses episódios ocorreram há 40 anos ou mais, alguns no início do século passado. E hoje, o cenário no Brasil ainda é de violência contra o trabalhador?
VG – Durante o período de explosão das greves no Brasil, no final dos anos 1970, a polícia reprimiu violentamente os movimentos. Somente em 1979, matou seis operários em piquetes. O exemplo mais famoso é o de Santo Dias da Silva, em São Paulo, mas há outros, como Orocílio Gonçalves, da construção civil de Belo Horizonte, e Benedito Martins, metalúrgico de Divinópolis (MG). Hoje a repressão é maior no campo e contra os moradores de favelas e bairros pobres. É só lembrar da chacina dos 19 sem-terra em Eldorado dos Carajás (PA), no final dos anos 90, ou dos inocentes chacinados em Nova Iguaçu (RJ), em 2006. Dos 20 executados pelas chamadas “forças da ordem”, 18 não tinham nenhuma passagem pela polícia, eram trabalhadores. Mata-se muito no Brasil. São 55 mil assassinatos por ano contra 119 no Canadá e 69 no Japão, um país que tem praticamente a mesma população do Brasil, de acordo com dados do livro de Michael Moore, Stupid White Man.

LC – Até aqui falamos do livro. Gostaria que você falasse um pouco sobre o autor. Quem é Vito Giannotti?
VG – Não é ninguém especial. Vito Giannotti é apenas um apaixonado pelas lutas dos trabalhadores no mundo e no Brasil.

LC – O que levou um italiano, ex-estudante de Filosofia, a trocar a faculdade pela fábrica e a trocar um país desenvolvido por um país do terceiro mundo, em plena ditadura militar?
VG – Nasci por acaso na Itália. Saí de lá, porque queria transformar este mundo. Naqueles tempos, as idéias da luta contra o imperialismo e por um mundo socialista eram muito populares. Influenciados pela Revolução Cultural chinesa, achávamos que os intelectuais tinham que viver um curto período como operário. Então saí da Itália, percorri vários países trabalhando como marítimo, como pescador, num navio de pesca industrial. Vim para o Brasil para passar poucos meses, mas me apaixonei pelo país no primeiro dia e resolvi ficar, apesar de o Brasil estar em plena ditadura. Depois de trabalhar no Espírito Santo, fui para São Paulo e trabalhei como metalúrgico durante 25 anos.

LC – Como foi a convivência com os operários brasileiros na fábrica?
VG – A minha experiência na fábrica determinou a minha paixão por uma transformação social no sentido do socialismo e especificamente pela comunicação como arma fundamental desta revolução. Trabalhando na fábrica, meu desespero diário era ver os trabalhadores comentando novelas, programas de TV tipo Chacrinha ou Flávio Cavalcanti ou as novelas da Globo, sem nenhuma preocupação com os problemas da classe. Às segundas-feiras de manhã, chegava louco para conversar sobre política, discutir a situação da nossa categoria, as condições da classe trabalhadora, os crimes da ditadura e encontrava os colegas comentando o Fantástico, falando de futebol.

Então percebi a necessidade imperiosa de se fazer veículos de comunicação para informar e formar os trabalhadores. Comecei a colaborar com jornais sindicais, a escrever artigos, a editar boletins e panfletos para os trabalhadores. Militava na oposição sindical em São Paulo e me preocupava com a questão da comunicação popular. Fizemos diversos jornais – Luta Operária, Luta Metalúrgica, Luta Sindical. Os jornais iam mudando de nome conforme eram descobertos e perseguidos pela ditadura. E, talvez por ter passado por uma faculdade e por meu interesse pela comunicação, eu sempre era escalado para escrever os artigos e colaborar nas publicações.

Passei então a ter uma preocupação obsessiva por uma linguagem fácil, cativante, que capturasse o interesse do trabalhador. Buscamos o “operariês”, como contraponto à linguagem distante, rebuscada, típica dos jornais de esquerda, cheias de “economês”, “sindicalês”, “politiquês” e “juridiquês”. Fiquei obcecado pela linguagem simples, fácil, atraente. Em 1986 publiquei, pela Brasiliense, O que é Jornalismo Operário, no qual dediquei um capítulo inteiro ao “operariês”. A partir de 1992, juntei a minha experiência da fábrica com a experiência da jornalista Claudia Santiago, da CUT, e passamos a dar cursos sobre comunicação popular e história dos trabalhadores para todo o Brasil. Escrever em linguagem simples, compreensível, acessível a todos é um dogma para mim