“Destruir o meio ambiente é uma característica do Capitalismo”. Assufrgs participa de Seminário sobre Meio Ambiente
O seminário sobre Políticas Públicas de Meio Ambiente – Crise: Ambiental, social, econômica e política realizado, terça-feira (10/3) no auditório do Sindicato Semapi, marcou a retomada das atividades de mobilização e seminários promovido pelo Movimento Gaúcho de Defesa do Meio Ambiente (Mogdema). O seminário apresentou três visões sobre a crise atual: do Professor Carlos Schmidt do Núcleo de Economia Alternativa (NEA/UFRGS), Martin Zamora do Grupo de Economia Solidária e Desenvolvimento e Bernadete Menezes, Coordenadora Geral da Assufrgs.
Crise exige mudança de comportamento
Para a sindicalista Bernadete Menezes, por trás da crise há algo muito mais profundo do que se está imaginando. “Esta crise é pior que a de 1929, porque há uma convergência entre a crise econômica e a crise ambiental”.
Por outro lado ressaltou que os trabalhadores estão meio perdidos e citou o exemplo do Fórum Social Mundial, onde na avaliação dela não foi possível fechar um calendário de lutas e assim desta forma a crise vai pegar os trabalhadores desprevenidos.
Bernadete relacionou a questão das modificações sociais que o uso das novas tecnologias estão colocando para os trabalhadores. Com o domínio do homem sobre a natureza e o uso das tecnologias é possível reduzir a jornada de trabalho, sem reduzir salário, aumentar o número de empregados e ainda garantir uma vida melhor, com o trabalhador tendo mais tempo para o lazer. “No entanto, nós ainda estamos pensando em destruir máquinas, como no início do século XX. Temos que pensar este mundo novo. Estamos criando um mundo de infelizes, Cada vez mais as relações pessoais vão se degringolando. Esta sociedade está podre, temos que pensar e enxergar um outro mundo, O desafio é grande porque a crise também é grande”, destacou.
Berna disse que antes era simpática ao movimento ambientalista, mas que a partir do momento que uma construtora resolveu construir um espigão atrás da sua casa, na cidade baixa, começou a participar mais ativamente. “Eles estão vendendo o nosso modo de vida, aqui da cidade e com este espigão nos querem roubar o direito ao sol”. Concluiu.
Mercado se comporta como uma manada assustada
O professor Carlos Schmidt,o Schimitão como é conhecido, iniciou saudando as mulheres pelo Dia 8 de Março, que foi no domingo, e elogiando o caráter universal que as mulheres conseguem dar as coisas práticas. “Se nós não cairmos na barbárie é porque as mulheres vão conseguir abrir os olhos dos homens para enfrentar esta situação”.
Schimitão também questionou a abordagem superficial que a mídia faz da crise, só tratando os aspectos financeiros. Para ele a acumulação do capital é da natureza do capitalismo e por isto não existe capitalismo ecológico. “É como se existisse tubarão vegetariano”, ironizou, citando o sociológio Michael Löwy.
Por exemplo, a bolha especulativa que se criou está na origem, na essência e não na aparência. O Capital deixou de ser regulado com o neoliberalismo e a crise é entre o crescimento da produtividade e o crescimento do capital financeiro. No entanto, ele discordou da análise da Bernadete, destacando que não é da lógica do capitalismo transformar desenvolvimento tecnológico em mais tempo ocioso e menor jornada de trabalho. Se tem excedente, se o capital não tem valorização no setor produtivo, vai buscar valorização no setor financeiro. Segundo Schimitão, o jogo de mercado faz com que o valor do capital se distancie do valor patrimonial, da produção. “A crise do sub prime é isto. O comportamento do mercado é o mesmo de uma manada, que se assusta. Quem estava investindo e especulando se assustou e se retraiu”.
Schimitão avaliou que o país está com uma atitude muito conservadora em relação a Europa e aos Estados Unidos, não querendo mexer nos juros. O que ele falou na terça aconteceu na quarta-feira (11) o Banco Central reduziu em 1,5% da taxa de juros.
O professor propôs que se tenha uma saída positiva. “Temos que pensar no que produzir e como produzir. Se passasse de uma agricultura com agrotóxico, para uma agricultura ecológica, estaríamos respeitando o meio ambiente. Só isso já seria uma coisa fundamental, pois geraria mais empregos e menos custos ambientais. Temos que mudar os registros e voltar a pensar em planejamento para mudar a matriz produtiva. Temos que tirar do baú as velhas questões que dialogam com a mudanças e a redução da jornada de trabalho é fundamental. Ao reduzir taxa de juros e a jornada de trabalho, fica tudo igual. Se a sociedade é de consumo tem que aumentar o Salário Mínimo. Tem que qualificar a infraestrutura. Investir em saneamento ambiental dialoga com o meio ambiente e com os custos e a qualidade da habitação, da saúde e da educação. Professor precisa de salário para não trabalhar três turnos. Vemos cada vez mais os movimentos social e sindical pensando nisto, nos marcos do capitalismo”.
O professor também destacou a importância da participação direta da população e dos trabalhadores neste processo. Também falou do imposto sobre as grandes fortunas, mas ressaltou que este tipo de propostas a classe dominante não vai querer.
Crise econômica irá dificultar a preservação do meio ambiente
O estudante de economia e participante do Grupo de Economia Solidária, Martim Zamora através de uma exposição bem organizada foi didático e mencionou aspectos importantes da crise, porém jogou um balde de água fria sobre as perspectivas positivas.
Com o tema crise econômica e meio ambiente, anotações preliminares, Martim concordou com Schimitão sobre a lógica do capitalismo. Mas foi mais enfático ao trabalhar a crise a partir do impacto desta sobre o meio ambiente. “É verdade que existem crises econômicas, que elas são cíclicas, mas a diferença desta crise é o seu significado. A visão desta crise está abalando o neoliberalismo, criando uma contradição interna, pois está junto com outras crises como a do meio ambiente, a da produção de alimentos e ainda podemos associar outras crises como a energética, podemos falar na crise do ser humano, enfim”.
A forma como a mídia trata a crise é mais do que superficial, para Martim, os comentários econômicos tratam da “economia do absurdo”. “Eles explicam e ninguém entende. A saída é complexificar o absurdo para parecer uma coisa inteligente”, criticou.
Em relação ao meio ambiente, Martim destacou que o capitalismo já surgiu com esta característica de acumulação primitiva, desmatando, poluindo rios, saqueando as riquezas naturais. “Na geração do capital já temos estes problemas”, salientou.
Quando ele apresentou os cenários da crise então a situação ficou pior. Se por um lado, a crise do capital irá diminuir a crise do meio ambiente porque haverá uma diminuição da produção e da destruição que ela causa. Por outro, ressaltou que esta mesma crise irá também dificultar os investimentos na preservação e no resgate do meio ambiente. “Os cortes no Ministério do Meio Ambiente serão os primeiros. É insustentável esta produção de carros, mas o BNDES está financiando as empresas que contribuem para poluir mais o meio ambiente e ainda não preservam os empregos”.
Para Martim haverá um aumento na indiferença em relação ao meio ambiente. “Os trabalhadores vão dizer que é preferível morrer de câncer do que ver a família morrer de fome. Este tipo de raciocínio fortalece a crise e vai contra o meio ambiente. O capitalismo está colocando em jogo a vida no planeta”.
Mas embora a análise de Martim seja dura, ele avalia que a saída é pensar em alternativas como a releitura da frase de Karl Marx, “Trabalhadores do mundo inteiro, Uni-vos”, para que seja possível pensar um planejamento do planeta. “No capitalismo não tem como fazer isto, ou seja, pensar o futuro”, concluiu.
No debate os participantes acrescentaram outras preocupações e perguntas como questão da saúde e a diminuição da qualidade dos alimentos. O seminário foi uma atividade promovida pelo Movimento Gaúcho de Defesa do Meio Ambiente (Mogdema) que se reúne todas as terças-feira, às 17h30 no Semapi, na rua Lima e Silva, 280.
Por Luis Henrique Silveira
Engenho Comunicação e Arte