Ato contra repressão policial na USP reúne mais de mil pessoas ontem (16/6)
O auditório da Geografia ficou lotado para a realização do ato contra a repressão na USP, no dia 16/6, convocado pela Adusp e apoiado por várias entidades. Foi preciso instalar um telão no vão livre do prédio da História e Geografia. Estudantes e docentes aglomeraram-se diante do telão e nos corredores laterais da Geografia, para assistir aos depoimentos de Marilena Chauí e Antonio Candido, convidados especiais, aos quais se juntou, a convite da mesa, Maria Victoria Benevides. O ato foi coordenado pelo professor Marco Brinati, vice-presidente da Adusp.
“Não fazemos outra coisa senão defender a Universidade, a educação, a cultura neste país”, disse Marilena. “Vocês são parte de uma luta histórica, que não começa com vocês e provavelmente não terminará, se a cada momento de discordância, de oposição, de cidadania, a resposta for a Polícia”.
A professora criticou duramente a reitora Suely Vilela: “Numa única gestão, a Reitoria conseguiu trazer duas vezes a Polícia ao campus”. No entender de Marilena, “a Reitoria enfeixou nas suas mãos um poder excessivo”. “A resposta é policial porque não temos fórum de discussão”.
Neste sentido, argumentou, a eleição direta do reitor é necessária, mas insuficiente para democratizar a instituição. “Não bastam diretas já. É preciso desestruturar essa estrutura vertical e centralizada da USP”, disse, recebendo fortes aplausos.
Ela também fez referência à imagem distorcida da Universidade que os meios de comunicação de massa têm produzido: “Uma construção lenta, gradual e segura de que aqueles que se colocam em defesa da Universidade Pública sejam aqueles que querem destruí-la”. Para Marilena, a resposta a essas e outras distorções, como a Univesp, só pode ser uma: “A luta”.
Política, sim!
Maria Victoria Benevides, professora da Faculdade de Educação, expressou apoio às opiniões de Marilena, e destacou a noção de soberania popular como principal constituidora da democracia. Além disso, defendeu o exercício da política, “a ação política que se volta para o bem público” (em contraposição à política daqueles que têm exclusivamente projetos pessoais).
“A política anda muito desmoralizada. Somos seres essencialmente políticos. Fora da política só existe a violência. Política pressupõe a busca do diálogo, respeito à opinião diferente e participação igualitária”, disse. “Fora da política não há salvação”.
Protesto veemente
Antonio Candido fez questão de frisar o motivo que o trouxe à USP: “Estou aqui em protesto veemente contra a intervenção da força policial no campus”, disse, arrancando os primeiros aplausos da audiência. Para ele, a ação da tropa de choque foi um “atentado aos direitos mais sagrados, de debater e de agir sem interferência do poder público”.
A seu ver, a tarefa central do movimento é “aproximar a Universidade, cada vez mais, da realidade social do país, em favor da luta contra a desigualdade e pela justiça social”. A frase definitiva de Antonio Candido recebeu entusiásticos e prolongados aplausos dentro do auditório, onde todos ficaram de pé, e fora dele, marcando assim o final do ato, em clima de apoteose.
Fotos: Daniel Garcia
Fonte: Boletim Especial da Adusp