Morte de vigilante choca profissionais e provoca revolta com falta de atenção da UFRJ
Na tarde do dia 11 de setembro, em frente do Hospital Clementino Fraga Filho, uma ação de marginais deu fim à vida do vigilante Nelson Lopes Filho, 53 anos, 30 dedicados à Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ele organizava o trânsito irregular e acabou rendido por integrantes de um Corolla, sendo covardemente assassinado a tiros de fuzil. Das 17h às 22h30 seu corpo permaneceu estendido no chão sem que nenhuma autoridade da UFRJ aparecesse.
O episódio e a cena do crime chocaram e trouxeram revolta a seus colegas, os vigilantes patrimoniais da UFRJ, que denunciaram falta de apoio da universidade e reivindicam providências e rediscussão sobre as condições de trabalho. “Nossa reivindicação é que seja rediscutida nossa atuação, para que a redimensione de acordo com as nossas condições de trabalho. Queremos que haja um clamor por parte da universidade para que se investigue o caso, pois vários crimes ocorreram ao longo desses 20 anos aqui na UFRJ, infelizmente, e em todos esses crimes houve uma mobilização política por parte da Reitoria”, declara o supervisor da Divisão de Segurança (Diseg), Jorge Vinicius, que completará 21 anos na Divisão.
Vinicius deu voz ao sentimento geral dos profissionais: “Nelsinho era um servidor público federal que estava no abono de permanência, já estava aposentado e retornou à atividade de rua por orgulho, pelo prazer e pela honra de terminar a sua vida profissional da maneira como iniciou. Sentimos falta de um apoio e atenção maior da universidade. Sentimos falta do respeito e da solidariedade que é devida a qualquer integrante dela. Se fosse um estudante ou professor o tratamento seria diferente”. O prefeito da Cidade Universitária, Hélio de Mattos, nega a falta de solidariedade por parte da universidade.
Ele deu uma longa declaração sobre todas as providências (contato com o plantão da Diseg,
com o comandante do 17º BPM, que se comprometeu a gerenciar todo o atendimento, com o quartel do corpo de bombeiros da Cidade Universitária) que tomou por telefone, haja vista que estava fora do estado. “Até a vinda da Delegacia de Homicídios e da viatura do corpo de bombeiros mantive contato telefônico com o diretor da Diseg, Jorge Trupiano, e o supervisor de plantão Nilson. Mantive o reitor Aloísio Teixeira informado das ações e às 20h fiz contato com o senhor Milton, um parente, colocando a estrutura da UFRJ à disposição dos familiares caso houvesse necessidade. No dia seguinte, ao chegar ao Rio, informado do sepultamento, fui ao cemitério para em nome da Reitoria prestar as condolências aos familiares”.
Hélio informou que recebeu cópia do boletim de ocorrência da Diseg e aguarda a cópia da Delegacia de Homicídios para se pronunciar com mais detalhes sobre o caso. Nas próximas semanas o prefeito marcará uma reunião com a Secretaria de Segurança Pública em que presentará sua preocupação em relação às investigações.
O prefeito marcou inclusive reunião com a nova diretoria para analisar a questão e
pretende reunir-se com os vigilantes. “Toda a prefeitura da UFRJ ficou chocada. Somos solidários com a família e com a categoria. É o segundo caso que aconteceu nos últimos vinte anos”, afirmou.
O assassinato brutal de um servidor dentro do campus da maior universidade federal do país no exercício de sua função é mais do que um alerta sobre a situação e as condições de trabalho na área de segurança das universidades federais que recai sobre toda sua comunidade.
Para Juscelino Ribeiro, integrante do GT Nacional de Segurança da Fasubra, do GT do SINTUFRJ e coordenador regional do seminário nacional de vigilantes federais,
a questão da segurança para a UFRJ envolve informação para os alunos, mais investimentos e, o principal, uma discussão ampla sobre política de segurança. “A questão
macro é a vulnerabilidade da segurança hoje na UFRJ. Não temos colete, e se Nelsinho tivesse, poderia ter tido uma chance. Mas tem outras coisas, como fechamento de portões, acesso à Ilha, fácil entrada e saída, etc”.
A Fasubra e seus sindicatos, por sua vez, lutam pela implementação de uma política de segurança que resguarde os servidores e a comunidade, com abertura de concursos
para reposição do quadro de pessoal, incluídos aí a vigilância.
Mas para piorar a situação, o decreto do governo que autoriza concursos para reposição automática em casos de falecimentos e aposentadorias deixou de fora os vigilantes.
A coordenadora-geral do SINTUFRJ, Noemi Andrade, que também é vigilante, declara que é preciso fazer uma discussão política: “Havia um grupo de trabalho que integrava vigilantes e a vice-reitora Sylvia Vargas que estava desenvolvendo um trabalho conjunto. Ele deixou de existir e a discussão sobre a política de segurança não está sendo feita. A comunidade está crescendo, irá crescer mais e não temos uma discussão organizada no campus”.
A dirigente reforça a problemática sobre o concurso e anuncia as primeiras iniciativas. “Vamos convocar uma reunião com o GT Nacional da Fasubra. E no dia 22 de setembro, às 14h, na sede da Vigilância, vamos fazer a discussão com os profissionais. Quanto ao decreto, o problema é mais complexo, pois está ligado também à discussão da terceirização”.
Fotos: Cícero Rabello