Governo pediu à PF para investigar inscrições do Mais Médicos, diz Ideli
A ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, disse nesta quinta-feira (18) que o Ministério da Saúde solicitou à Polícia Federal que investigue possíveis sabotagens ao programa Mais Médicos, lançado na última semana pelo governo federal.
O programa Mais Médicos, que vai abrir vagas para profissionais atuarem na atenção básica em regiões carentes do país, teve em sua primeira semana de inscrições 11,7 mil profissionais cadastrados, de acordo com balanço do Ministério da Saúde.
Segundo a assessoria de imprensa do Ministério da Saúde, o órgão recebeu uma série de denúncias relatando que grupos têm utilizado as redes sociais para disseminar propostas a fim de inviabilizar e atrasar a implementação da chamada de profissionais. A ideia desses grupos seria gerar um alto número de inscrições formais e, posteriormente, provocar uma desistência em massa, prejudicando os reais interessados na participação da iniciativa.
“Só poderemos lamentar se isso efetivamente estiver acontecendo porque seria uma forma de sabotagem ao direito legítimo da população de ter um atendimento médico garantido, de ter médico. Então, se inscrever em massa para depois desistir em massa, para retardar ou impedir a contratação, é digamos assim, um prejuízo à população e por isso. O próprio Ministério da Saúde já solicitou atuação da PF para que possa investigar se está ocorrendo sabotagem ou não”, afirmou Ideli após participara do programa “Bom Dia Ministro”.
“Agora eu quero crer, pelo reconhecimento que nós temos dos nossos médicos, do seu compromisso com a medicina, com o juramento que eles fazem ao se diplomar, que isso não esteja ocorrendo. E que estes mais de 11 mil médicos inscritos estejam efetivamente com disposição de atender a população onde ela mais precisa”, completou a ministra.
O Ministério da Saúde também informou que a ouvidoria do ministério está ligando para médicos que se cadastraram no programa para tentar identificar eventuais inconsistências nos cadastros.
O G1 entrou em contato com a assessoria de imprensa da Polícia Federal, que, até a última atualização desta reportagem, ainda não havia confirmado se a corporação já está fazendo as investigações.
Como será o programa
A previsão do Ministério da Saúde é que até 18 de setembro todos os profissionais do Mais Médicos estejam atuando no país. O programa permite a vinda de profissionais estrangeiros e de brasileiros que se formaram no exterior sem a necessidade de revalidação do diploma.
A medida provisória também institui a abertura de 11.447 vagas em faculdades de medicina até 2017 e, a partir de 2015, aumenta em dois anos a grade curricular das faculdades públicas e particulares de medicina, com formação voltada à atenção básica (1º ano) e setores de urgência e emergência (2º ano).
Nesse período, os alunos terão uma autorização temporária para o exercício da medicina, e ganharão uma bolsa para atender no Sistema Único de Saúde (SUS).
A medida provisória também institui a abertura de 11.447 vagas em faculdades de medicina até 2017 e, a partir de 2015, aumenta em dois anos a grade curricular das faculdades públicas e particulares de medicina, com formação voltada à atenção básica (1º ano) e setores de urgência e emergência (2º ano).
Neste período, os alunos terão uma autorização temporária para o exercício da medicina, e ganharão uma bolsa para atender no Sistema Único de Saúde (SUS).
Cada um dos médicos vai receber uma bolsa federal de R$ 10 mil. O programa tem investimento de R$ 2,8 bilhões.
Segundo o governo, a prioridade será preencher as vagas do programa com profissionais brasileiros. Os postos de trabalho remanescentes serão completados com profissionais estrangeiros ou brasileiros formados no exterior.
“Não se pode obrigar um médico que quer morar na capital a ir para o interior. O profissional de saúde tem o direito de trabalhar onde quiser”, afirmou a presidente Dilma Rousseff durante o lançamento, ao explicar porque optou por chamar profissionais estrangeiros, se necessário. Segundo ela, a iniciativa “se trata de garantir que todos os brasileiros tenham acesso a um médico”.
Os médicos espanhóis, um dos grupos tratados pelo governo federal como prioritários entre os estrangeiros que devem atuar no Brasil, estão aptos a trabalhar no país, na avaliação de Fernando Rivas. Ele é o dirigente responsável pela área de promoção de emprego da Organização Médica Colegial (OMC), órgão máximo de representação desses profissionais na Espanha.
Rivas considera que o pagamento mensal de R$ 10 mil previsto no “Mais Médicos” é satisfatório. “Tal como está a situação da Espanha atualmente, onde os salários têm sido reduzidos entre 20% e 30% nos últimos anos e onde persistem os cortes [de verbas] na saúde, a oferta de R$ 10 mil mensais, mais alimentação e alojamento, é uma boa oferta”, diz.
Rivas também rebate as dúvidas levantadas sobre o preparo dos profissionais estrangeiros que virão ao país.
“Creio que não se pode questionar a formação médica espanhola. O nível de nossos médicos está mais do que testado, e certamente aprovado”, afirma.
Em meio a uma grave crise econômica, a Espanha enfrenta cifras recordes de desemprego entre médicos, diz o dirigente da OMC. “No mês de maio, o número de desempregados era de 3.395”, informa. A quantidade é ainda maior se forem incluídos os profissionais que deixaram o país em busca de trabalho – só em 2012, 2.405 médicos foram trabalhar no exterior, e em 2011, foram 1.378, ressalta. “É evidente que há uma fuga notável de profissionais, e isso parece que não vai mudar nos próximos anos.”
Regras
Só poderão participar do “Mais Médicos” estrangeiros que tenham estudado em faculdades de medicina com grade curricular equivalente à brasileira, proficientes na língua portuguesa, que tenham recebido de seu país de origem a autorização para livre exercício da medicina e que sejam de nações onde a proporção de médicos para cada grupo de mil habitantes é de, pelo menos, 1,8 médicos para cada mil habitantes.
Isso exclui países como Bolívia, Paraguai e Peru, que estão abaixo. Espanha, Portugal, Cuba, Argentina e Uruguai são exemplos de países que superam esse índice.
Todos os profissionais vindos de outros países serão acompanhados por uma universidade federal. Os municípios inscritos no programa terão de oferecer moradia e alimentação aos profissionais, além de ter de acessar recursos do Ministério da Saúde para construção, reforma e ampliação das unidades básicas.
Os profissionais de outros países e brasileiros formados médicos em universidades estrangeiras ficarão isentos de realizar o Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos, o Revalida, ao optarem pelo registro temporário de médicos, que será concedido pelo Conselho Federal de Medicina (CFM).
No caso dos estrangeiros, será obrigatório que eles participem de um curso de três semanas, em uma universidade federal que tenha aderido ao programa, onde serão avaliadas por professores as capacidades técnica e de comunicação. Sendo aprovado, eles serão inscritos no Conselho Regional de Medicina do estado em que vão trabalhar.
Prazos
A escolha das vagas será dividida em duas fases. A primeira contará apenas com médicos brasileiros, e a segunda com os profissionais estrangeiros e com brasileiros que se formaram no exterior.
Segundo o governo, em 26 de julho serão publicadas as vagas existentes nas cidades brasileiras. Até 28 do mesmo mês, os médicos brasileiros inscritos no programa poderão escolher os municípios.
Em 1º de agosto será divulgada a relação de profissionais brasileiros, que terão de homologar a participação e assinar um termo de compromisso até 3 de agosto. Dois dias depois, as escolhas serão validadas no Diário Oficial da União e os médicos escolhidos começam a atuar em 2 de setembro.
As vagas remanescentes serão divulgadas em 6 de agosto. O processo de escolha nesta segunda etapa vai até 8 do mesmo mês e os resultados serão publicados em 13 de agosto. O início das atividades está previsto para 18 de setembro.
Fonte: http://g1.globo.com/bemestar/