Assufrgs debate desafios das mulheres na luta por direitos
Na última terça-feira (03) os técnico-administrativos em educação paralisaram suas atividades para debater a Campanha Salarial 2015. A paralisação fez pare do Dia Nacional de Lutas da Fasubra. Na parte da manhã, os servidores debateram o que falta na luta dos SPFs para a conquista da data base. Clique aqui para ver a matéria.
À tarde, deram continuidade ao debate sobre a questão das mulheres em 8 de março: Desafios das Mulheres, que abordará a luta das mulheres pela conquista do seu espaço e direitos, e participaram da mesa Ana Carolina Barbosa (União Brasileira de Mulheres – UBM) e Isis Garcia Marques (Secretaria de Mulheres da CUT/RS).
8 de março – somos todas feministas?
Ana Carolina Barbosa, da UBM, explicou que falar do 8 de março nos espaços dos trabalhadores é recobrar a sua essência, pois esta data é o marco da luta das mulheres. Além de relembrar todas as lutas por direitos e espaço, como os servidores estavam realizando no momento com o debate é, também, “garantir nossa condição humana, pois é nesse formato que nos fazemos sujeito de direito e como pessoas”, disse Ana Carolina. Para ela é preciso fazer ainda hoje alguns questionamentos para avançarmos em tal pauta “Por que conseguimos ser maioria na sociedade e não ser maioria nos espaços de poder? Como a gente compartilha isso internamente no âmbito do movimento? Hoje temos a realidade que temos uma presidente mulher, o que muda?”, indagou a mesma.
Isis Garcia Marques, da Secretaria de Mulheres da CUT/RS, abordou a questão de mulheres do ponto de vista do movimento. Para ela toda a mulher é feminista, “mesmo que ela não saiba, não se perceba, ela é. Porque o feminismo é um movimento de indignação. No momento que a gente se indigna e vê que aquilo que temos não é suficiente para nós, então estamos sendo feministas”, pontuou Isis.
Pautas do movimento de mulheres – avanços e retrocessos
Para Ana Carolina Barbosa, vivemos hoje a plena liberdade sexual da mulher. Esta situação coloca a necessidade de pensar política de saúde e educação sexual frente ao empoderamento da mulher na sociedade. Ela explica que o índice de HIV no Brasil é de 20,22%, sendo no Rio Grande do Sul 41,4%. “Como o sistema de saúde enxerga uma jovem mulher? Como se negocia camisinha do ponto de vista das relações? Nós temos educação sexual efetivamente nas escolas? Quando se trabalha isso tem que entender a raiz da opressão, ela continua ainda machucando e muito presente na vida das mulheres ainda hoje. Por mais que a luta seja permanente ela é isso o tempo inteiro”, problematizou Ana Carolina.
Já Isis Garcia elencou as principais pautas debatidas e reivindicadas no movimento sindical como Creche Pública enquanto direito da criança; redução da jornada de trabalho e violência no local de trabalho; paridade política nos sindicatos e centrais sindicais; compartilhamento do cuidado na divisão do trabalho reprodutivo com os homens e respeito da sociedade com as mulheres; e democratização da mídia.
Segundo Isis a mulher cumpre muitas vezes tripla jornada diária, dividindo-se entre trabalho, estudo e cuidado dos filhos e lar, dessa forma a creche pública como direito da criança é fundamental para o avanço dos direitos das mulheres. “Os dados dizem que as mulheres são provedoras dos seus lares, se qualificam para o trabalho. E como você vai ter o direito de exercer a maternidade e de te qualificar? Como a mulher vai estudar, se a criança fica na creche durante um horário, e tu trabalha e à noite tem que estudar? Não conseguimos fazer com que as instituições reconheçam esta necessidade da creche em tempo integral”, contestou Isis.
Isis, também, explicou a luta pela conquista do espaço político nas organizações dos trabalhadores e o direito de compartilhar o cuidado das crianças com os homens, na conquista pelo respeito na sociedade. A pauta de divisão do trabalho reprodutivo vem no sentido de “os nossos companheiros poderem nos entender e construir junto conosco, por que a nossa sobrecarga é grande. Saímos do nosso trabalho e tem que ser mãe, esposa, cuidar de um lar e por que não podemos dividir essas tarefas? Já temos muitos avanços, os homens já não são mais tão machistas e se sentirem diminuídos por terem determinadas posturas, mas ainda cumprimos um papel que a sociedade acha que é somente nosso”, reforçou Isis.
Para fora do trabalho e lar, a mulher também continua oprimida nos espaços políticos, embora em algumas organizações se tenha avanço na paridade do poder político como sindicatos e centrais sindicais. “Se a sociedade reflete que somos quase maioria porque não podemos ocupar os espaços de gestão nas centrais e nos sindicatos? Os cargos de tesouraria, de presidência é sempre dos homens. No último congresso da CUT conseguimos 43%, e mesmo assim algumas mulheres se abstiveram, por entender que aquilo era o feminismo contra o machismo. E não é isso! A gente quer ocupar um espaço que deveria ser naturalmente nosso, e que não é devido à opressão de gênero”, contesta.
Ana Carolina Barbosa relatou as dificuldades encontradas no curso do movimento feminista que ora avança, ora reflui e o que sobra às mulheres é a resistência. Citou como exemplo de retrocesso a perda da secretaria de políticas para mulheres no RS com o governo Sartori, a pasta passa a ser uma subdivisão de uma coordenadoria de direitos humanos. Para ela, o 8 de março é a percepção dos direitos e a necessidade de “construir uma igualdade, e que isso é principalmente um plano de luta. E é uma luta permanente pois a emancipação da mulher para transformar a sociedade numa outra perspectiva, esta luta é estratégica”, reforçou Ana Carolina. E deixa o questionamento: “como é que a gente puxa o fio de radicalidade disso tudo? Como dar concretude para a luta das mulheres? Como dialogar com o percentual de 60% de jovens que estão se afirmando feministas? Para pensar as formas e o caminhar da organização do movimento sindical”, finalizou.