A influência chantagista do mercado estrangeiro na política da América Latina
Sim, a Standard & Poor’s considera o governo de Temer um avanço para o país. A reforma trabalhista que precarizou nosso emprego e o teto de gastos que nos condenou a 20 anos de subdesenvolvimento em educação e saúde, são, para as agências de risco, um progresso. Mais uma vez o sistema financeiro confirma seu tom chantagista e de terrorismo econômico e midiático.
O relatório que rebaixa nota do Brasil, tem como objetivo convencer os investidores internacionais, a economia, e por tabela parte da população brasileira, com ajuda da mídia, de que a Reforma da Previdência é o único caminho para tirar o país da crise. A agência também foi para cima dos servidores públicos ao apontar a importância do adiamento do reajuste e o aumento da contribuição previdenciária aos servidores públicos.
Essa pressão feita pelo capital estrangeiro pode muito bem não aumentar a popularidade do presidente Temer, mas é uma importante aliada para ajudar na aceleração dos projetos de cortes de políticas sociais. Temer não está sozinho, governos de direita, com as mesmas políticas, vem se destacando em todo o cenário político da América Latina.
A influência no novo cenário político da América Latina
Devemos ressaltar a importância do período dos próximos dois anos para a região. A América Latina viverá nos próximos 14 meses “uma de suas mais importantes maratonas eleitorais das últimas décadas”, na definição do diretor do Idea (Instituto para a Democracia e a Assistência Eleitoral) Daniel Zovatto, que é também doutor em ciência política e especialista em processos eleitorais. Oito países da região terão a chance de trocar seus presidentes – ou de dar um novo mandato aos presidentes atuais, nos casos em que a reeleição é permitida – no período que teve início com a eleição chilena, no último 19 de novembro de 2017, indo até, provavelmente, dezembro de 2018, quando está programada para ocorrer a eleição na Venezuela, cuja data precisa ainda não foi fixada pelo órgão eleitoral local. Se for considerado, ainda, o período que se estende até 2019, devem ser acrescentadas as disputas presidenciais nos seguintes países: Bolívia, Argentina, Uruguai, El Salvador, Panamá e Guatemala, o que pode levar à troca de líderes de 14 dos 21 países latino-americanos num intervalo de dois anos.
A retomada de uma política pró-mercado nessas eleições que estão por vir contam exatamente com o apoio do mercado estrangeiro. No Chile, a recente vitória do empresário Sebastián Piñera, de agenda liberal, foi ancorada em opiniões do Banco Mundial e da própria Standard & Poor’s, que às vésperas da eleição rebaixou a nota de crédito do Chile pela 1ª vez em 25 anos. Ao final do então governo da socialista Michelle Bachelet. No Chile não é permitida reeleição.
Já o Banco Mundial fez ainda pior, admitindo que manipulou dados sobre o Chile contra o Governo de Bachelet. No último dia 13 de janeiro, em entrevista ao The Wall Street Journal, o economista-chefe do organismo, Paul Romer, pediu desculpa ao país pelas manipulações num ranking de competitividade, que teriam motivação política. Trata-se do relatório Doing Business, em que a posição do Chile caiu constantemente durante o mandato da socialista (2006-2010), subiu no Governo de direita de Sebastián Piñera (2010-2014) e voltou a cair quando a médica assumiu um novo mandato (2014-2018). Nesses 12 anos, o Chile flutuou entre o posto 25 e o 57.
Não podemos esquecer que no mês da eleição no Chile, a vantagem de Piñera nas pesquisas já animava os mercados de valores, que elevaram a Bolsa de Santiago ao seu máximo histórico, superando os 5.000 pontos em julho.
A chantagem do mercado ao governo argentino não é menor. O presidente Mauricio Macri pode ter ganho “tapinha nas costas”, dos agentes de mercado por haver aprovado uma reforma básica da Previdência e outra tributária, mas ele segue em falta junto à população. Os hermanos fecharam 2017 com um aumento nos preços de 24,8%, índice que foi superado somente por alguns poucos países africanos. Dezembro foi o pior mês do ano no país vizinho, com uma taxa de 3,1%, duas vezes superior à de novembro. O Governo argentino autorizou, neste mês de janeiro, aumentos de até 60% nas tarifas de trens e ônibus, 24% na de eletricidade e 30% na da água. Os impostos municipais no perímetro urbano de Buenos Aires subirão até 60% em 2018. Também foram aprovados aumentos nos serviços de cobertura médica privada, nos pedágios e nas mensalidades das escolas particulares.
Apesar da óbvia inflação, o macrismo segue contando com o apoio de grande parte do mundo econômico argentino e internacional, que aplaude publicamente a política de reformas contra os direitos da população, resgatando assim a credibilidade das estatísticas encaradas como oficiais.
Fontes: Estadão, Vermelho21, Folha de São Paulo, Nexo Jornal, Jutificando, El País, Exame.
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