Mulher, negra, periférica, lutadora: “Marielle Franco, presente!”
Exatos seis dias após o dia internacional das mulheres, o Brasil e o mundo receberam com choque a notícia da execução da vereadora pelo PSOL no Rio de Janeiro, Marielle Franco. A morte da socióloga simboliza uma forma de calar a voz de uma mulher periférica, negra, mãe, que conseguiu quebrar as barreiras sociais e ser a quinta vereadora mais votada nas últimas eleições no Rio de Janeiro.
Marielle era ativista das causas do povo negro, das mulheres, dos mais pobres e vulneráveis, e da luta LGBT. Sua execução reverbera diretamente na democracia, uma maneira de romper com uma voz pública, uma pessoa eleita pelos cariocas para representá-los, mas também simboliza a tentativa de calar todos os movimentos sociais. Não é a toa que as manifestações que denunciaram sua execução ocorreram por todo o país, inclusive em Porto Alegre, extrapolando o berço eleitoral da vereadora. Na capital gaúcha o ato superou em número de participantes a atividade do dia 08 de março, iniciando na Esquina Democrática e circulando pelas avenidas Borges de Medeiros, José do Patrocínio e no Largo Zumbi dos Palmares.
Foto: Guilherme Santos/Sul21
Os motivos certos da execução de Marielle ainda serão descobertos, porém, é importante que lembremos qual era o papel desempenhado por ela. Marielle colocava o “dedo na ferida” da atual conjuntura política, social e de segurança pública no Rio de Janeiro. A vereadora expunha diariamente os problemas relacionados à intervenção militar na capital fluminense, defendendo abertamente os jovens negros das favelas e denunciando sem cerimônias as ações da Policia Militar nas comunidades da cidade.
Há duas semanas, Marielle havia assumido relatoria da Comissão da Câmara de Vereadores do Rio criada para acompanhar a intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro. Ela vinha se posicionando publicamente contra a medida. Em uma postagem, apenas quatro dias antes de morrer, a vereadora escreveu “Nessa semana dois jovens foram mortos e jogados em um valão. Hoje a polícia andou pelas ruas ameaçando os moradores”.
Postagem de Marielle no sábado, quatro dias antes de ser morta | Foto: reprodução/Facebook
Um dia antes de ser assassinada, Marielle postou ao se referir à morte de um jovem no Jacarezinho:
Post de Marielle Franco no Twitter, um dia antes de ser assassinada (Foto: Reprodução/Twitter)
Desde que o governo federal anunciou a intervenção federal na segurança do Rio de Janeiro, há um mês, as incursões do 41º Batalhão da Polícia Militar, considerado o mais letal do estado, tornaram-se mais constantes e violentas, segundo ativistas e moradores de Acari, região norte do Rio.
Antes de se eleger vereadora, Marielle foi assessora parlamentar do deputado estadual Marcelo Freixo, seu colega no PSOL, ao lado de quem participou da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa. Estudou Sociologia na PUC, com o apoio de bolsa integral, e fez mestrado em Administração Pública na Universidade Federal Fluminense. Sua dissertação teve como tema as Unidades de Polícia Pacificadora. O título foi “UPP: a redução da favela a três letras”. Antes de assumir o mandato, a vereadora trabalhou em organizações da sociedade civil como a Brasil Foundation e o Centro de Ações Solidárias da Maré (Ceasm). Marielle Franco estava no primeiro mandato como parlamentar. Oriunda da favela da Maré, zona norte do Rio, tinha 38 anos, e deixou uma filha de 20.
Marielle, presente!