Memória Assufrgs – Quem foi Júlio da Silveira? Fundador da Cooperativa da Escola de Engenharia de Porto Alegre
Na véspera do dia da Consciência Negra, resgatamos um pouco da história do Júlio da Silveira. Ele foi o gerente da Cooperativa da Escola de Engenharia de Porto Alegre e servidor da Escola, durante mais de 15 anos. Foi também um dos fundadores e primeiro presidente, em 1907, do clube de futebol amador Rio-Grandense, de Porto Alegre, integrante da Liga dos Canelas Pretas, composta somente por homens negros. Foi ainda gerente do periódico “O Exemplo”, jornal semanal pós-abolicionista brasileiro, porta-voz dos negros do sul do país. O Exemplo foi o mais importante jornal do seu tipo no Brasil e o primeiro com periodicidade até as primeiras décadas do século XX
Liga dos Canelas-Pretas. Este era o nome pejorativo com que a Liga Nacional de Futebol Porto-Alegrense, era conhecida por parte da população. Ela foi formada no início do século XX na região do antigo bairro da Ilhota, em Porto Alegre, unicamente por negros. Tudo começou com a discriminação praticada pela Liga Metropolitana. Ali, só podiam jogar homens brancos. Em resposta, os Canelas-Pretas estabeleceram sua liga entre 1910 e 1915, atingindo grande reconhecimento na década de 1920. Como sempre acontece no Rio Grande do Sul, havia dois grandes adversários nessa liga: o Bento Gonçalves e o Rio-Grandense, este último, o time de Júlio da Silveira, chamado na época de “mulatinhos cor-de-rosa”, formado por funcionários públicos e de hotéis. Já o Bento Gonçalves, o grande rival, era um time majoritariamente de engraxates e outros profissionais, quase sempre muito pobres. Uma crônica de Lupicínio Rodrigues, publicada no jornal Última Hora, em 06 de abril de 1963, traz mais informações: “Entre estes mulatinhos estava o senhor Júlio Silveira, pai do nosso querido Antoninho Onofre da Silveira, o senhor Francisco Rodrigues, meu querido pai, o senhor Otacílio Conceição, pai do nosso amigo Marceli Conceição, o senhor Orlando Ferreira da Silva, o senhor José Gomes e outros. O time foi formado. Deram-lhe o nome de “RIO-GRANDENSE” e ficou sob a presidência do saudoso Julio Silveira.”
Em 29 de julho de 1927 o jornal O Exemplo noticiou a morte de Júlio da Silveira, gerente do jornal desde 1920 até aquela data, que morreu com 43 anos incompletos, vítima de nefrite crônica, na Santa Casa de Porto Alegre. As palavras no jornal foram de grande comoção: “tangidos pelas lágrimas da dor é que corremos a pena sobre o papel para noticiar o infausto acontecimento do falecimento do nosso amigo Júlio da Silveira”. Como funcionário da Escola de Engenharia de Porto Alegre foi representado na notícia como um “excelente auxiliar” e estimado por todos. No jornal ainda o descreveram como “excelente chefe de família e extremoso amigo”. Era casado com Isaltina Silveira, com quem teve três filhos, Júlio Cezar da Silveira, acadêmico de medicina e os menores, Danilo Silveira e Antônio Onofre da Silveira.
Antônio Onofre da Silveira (1915 – 1988), foi jornalista, dentista e boêmio,um personagem tão folclórico da noite porto-alegrense que chegou a ganhar um epitáfio ainda em vida, no caso, uma canção de Glênio Peres que dizia: “Morreu Antoninho Onofre / Homem bom estava ali / Até a lua, de triste, / Não passa mais por aqui”. O caso é que, como titular da coluna Ronda, no extinto Diário de Notícias, ele foi um dos primeiros cronistas da vida cultural da cidade. Tanto que, em 1941, quando o americano Walt Disney fez uma escala em Porto Alegre, Onofre estava lá para recebê-lo, assim como o escritor Erico Verissimo.
Fundada entre dezembro de 1921 e janeiro de 1922, a Cooperativa da Engenharia de Porto Alegre foi a primeira experiência de organização dos funcionários vinculados a uma das escolas que integrariam na década de 1930 a UPA – Universidade de Porto Alegre. A instituição se tornou, em 1947, Universidade do Rio Grande do Sul para, poucos anos depois, ser federalizada, passando a ser conhecida como UFRGS. A Cooperativa foi um dos embriões da Assufrgs Sindicato.
*A foto de Júlio da Silveira, no topo da página, é uma digitalização do periódico “O Exemplo”, jornal semanal pós-abolicionista brasileiro, porta-voz dos negros do sul do país. A imagem consta na edição de 6 de janeiro de 1921.
Fontes:
-> http://
-> https://www.sul21.com.br/
-> https://www.ufrgs.br/
-> https://pt.wikipedia.org/
-> Recortes, clipagens e documentos do CEDEM – Centro de Documentação e Memória da Assufrgs Sindicato.