40 anos de ANDES na UFRGS: evento revive embates e conquistas

Uma trajetória de mobilização, resistência e conquistas em relação à carreira docente. Assim foram narrados os 40 anos de ANDES na UFRGS no evento comemorativo à data, que aconteceu na última quarta-feira (21) na Faculdade de Educação (Faced), com a presença de mais de 60 pessoas – diretores atuais e de gestões anteriores, professores ativos e aposentados de várias unidades, representantes de entidades e profissionais que atuam junto à Seção Sindical do ANDES-SN na UFRGS. A atividade foi coordenada pela professora Elisabete Búrigo, presidente da Seção Sindical.

Na primeira parte do evento, os 40 anos de ANDES na UFRGS foram lembrados pela professora Lorena Holzmann, uma das fundadoras da Associação dos Docentes da UFRGS, pelos professores Antonio Gonçalves Filho, presidente do Sindicato Nacional, e Robert Ponge, diretor da Seção e da Regional ANDES-SN no Estado, substituindo o professor Carlos Alberto Gonçalves, que não pôde comparecer. Emocionados, todos reviveram acontecimentos que fizeram parte dessas décadas de mobilização democrática em defesa da universidade pública, da carreira docente e dos direitos dos trabalhadores.

Um a mais é muito mais

A trajetória do sindicato docente foi marcada por dificuldades nos cenários políticos e econômicos, sempre mantendo a perspectiva classista. “Muitas incompreensões advêm disso, porque, além da pauta consistente em defesa da categoria, não nos poupamos de contribuir com o processo de organização da classe trabalhadora como um todo”, destaca o professor Antonio Gonçalves Filho, presidente do ANDES-SN.

“Na sua origem, nosso sindicato foi construído a partir da base. Não foi uma superestrutura criando seções Brasil afora, pelo contrário: a necessidade da luta fez com que fossem criadas as seções docentes”, enfatiza. Para ele, o balanço dessas quatro décadas é positivo: “Hoje, temos um grande instrumento de lutas, o Sindicato Nacional, presente em mais de cem instituições, universidades, CEFETs e IFs. Essa fórmula organizativa é muito importante na conjuntura atual, porque nos dá capital político para sermos um ponto de aglutinação na construção de uma frente única em defesa das liberdades democráticas e dos nossos direitos.”

Apesar de fazer uma leitura bastante árdua do momento atual, marcado por uma onda neofascista e ataques à liberdade de cátedra, Gonçalves Filho garante ter ânimo. “Parece que, depois de tanta luta, a gente está regredindo ao passado, mas não. Tenho muita confiança de que a nossa organização não permitirá retroceder. Tivemos divisões na nossa base, mas isso faz parte do processo de constituição, e nunca nos destruiu. E também por isso fiz questão de atravessar o Brasil e compartilhar com vocês esta data comemorativa, pois a base do ANDES aqui nesta universidade é de muita luta e muita resistência, sendo um dos espaços que sofreu na pele a tentativa de divisionismo da nossa categoria.”

Reorganização sindical

A professora Lorena destaca que a fundação da entidade aconteceu em um contexto de reestruturação político-partidária na fase final da ditadura. “Faltava experiência e prática democrática”, lembra. Havia docentes que alegavam que professores universitários não deveriam participar do movimento sindical. Para ela, um dos maiores embates do movimento na UFRGS foi a assembleia de dezembro de 2008. “Nós, professores, fomos recebidos por um batalhão de seguranças em plena universidade”, lamenta a aposentada, que diz nunca ter visto algo semelhante em sua carreira. Contra a decisão majoritária da assembleia, da qual participaram mais de 200 professores, uma reunião esvaziada, horas depois, aprovou a criação de um sindicato municipal usando cerca de 400 procurações.

Foi este o marco para a reorganização da Seção Sindical em 2009, preservando o regimento democrático da extinta Associação de Docentes da UFRGS, a vinculação com o movimento nacional docente e a independência em relação a partidos políticos, administrações e governos.

Na visão do professor Robert Ponge, é fundamental lembrarmos das conquistas realizadas ao longo do tempo para podermos medir onde estamos hoje. “A partir do governo Collor, todos os governos usaram a tática de apertar o torniquete salarial, contingenciar ou diminuir as vagas de professores e funcionários nas universidades, congelar as verbas e atacar a aposentadoria. E quando a situação ficava insuportável em termos de mobilização, usavam a estratégia de alívios limitados associados a modificações ou estruturações conceituais na carreira docente, enfraquecendo ou desestruturando o já existente”, resgata.

Reconhecimento e coletividade

Após a exibição de vídeo comemorativo dos 40 anos de Andes na UFRGS, representantes de entidades expressaram sua saudação e também deram sua contribuição para o resgate da história da Seção.

“Assistir tudo isso nos dá forças e reanima para as lutas que teremos”, declarou o professor Carlos Pires, representando a seção sindical da Universidade Federal de Santa Maria (Sedufsm) e a Regional/RS do ANDES-SN. Também emocionadas foram as saudações do professor Luiz Henrique Schuch, que representou a seção da Universidade Federal de Pelotas (Adufpel), e do ex-presidente do ANDES/UFRGS, Mathias Luce.

André Martins, tesoureiro do Sindoif, agradeceu o apoio do ANDES/UFRGS na estruturação da seção no IFRS. “Quando vejo as políticas do Proifes e do sindicato de base municipal, observo uma postura que realmente não tem relação com a base docente, com o que se quer construir e com o avanço significativo em nossas carreiras e na luta para mudar a sociedade”, comenta.

Também se manifestaram Vivian Santos, representando a Central Sindical e Popular CSP-Conlutas, Mariane Quadros, em nome da Assufrgs, e Tiago Gornicki Schneider, que integra o escritório Paese, Ferreira e Advogados Associados, que assessora a Regional/RS do ANDES-SN.

Estiveram presentes, também, a professora Patricia Reuillard, representando o coletivo Professores pela Democracia, o advogado Guilherme Monteiro, representando o escritório Coelho, Schneider, Pereira, Monteiro Advogados Associados – CSPM, que presta assessoria jurídica à Seção, as jornalistas Marianna Senderowicz, Graziela Trajano e Renata Giacobone, da empresa Nossa Comunicação, responsável pela comunicação da entidade, e Lucas Pitta Klein, que participou da produção do vídeo, coordenado pela jornalista Katia Marko e pelo professor Juca Gil.

Vinícius Stone Silva, coordenador da Associação dos Pós-Graduandos (APG), agradeceu o apoio do ANDES/UFRGS nas lutas dos estudantes, como na revogação da suspensão de três alunos da Faculdade de Direito, que participaram da ocupação da Universidade em 2016. “Esta foi a primeira tentativa de punição a movimentos dentro da universidade desde 1977, e é algo preocupante. Não vamos aceitar punição a nenhum estudante, nem que professores sejam intimidados. Que a nossa unidade nos dê a coragem necessária para as batalhas que virão”, declara Elisabete Búrigo.

Reiterando as palavras dos colegas, e encerrando os trabalhos, Elisabete reforçou a importância da unidade na defesa incondicional da universidade pública, que é “uma conquista da sociedade brasileira e, para cumprir seu papel, deve ser um espaço democrático, construído por estudantes, técnicos e docentes”.

O vídeo institucional produzido para registrar os primeiros 40 anos do ANDES/UFRGS será veiculado em breve, juntamente com uma brochura comemorativa. O vídeo das falas da mesa está disponível em https://goo.gl/ftCKcJ

Texto: Marianna Senderowicz

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