Ato em Porto Alegre rejeita intervenção de Trump na Venezuela
Cerca de 150 lideranças políticas e sociais participaram, na noite de terça-feira (5/2), do “ato pela paz, contra a guerra, pela autodeterminação do povo venezuelano, na Sala Adão Pretto, da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. O evento promovido pelo Comitê Gaúcho de Solidariedade ao Povo Venezuelano aprovou um manifesto que repudia a ameaça de intervenção dos Estados Unidos e seus aliados, como o governo de Jair Bolsonaro no Brasil. A Assufrgs esteve presente no ato representada por integrantes da coordenação e da base.
O ato destacou o fato de que a Venezuela tem hoje a maior reserva de petróleo do planeta, o que a torna alvo econômico e geopolítico do governo Trump. O ex-prefeito de Porto Alegre, Raul Pont, denunciou a estratégia de acobertar os reais motivos para o complô internacional para derrubar o presidente Maduro, com o objetivo de instaurar medidas econômicas e permitir a entrada de petrolíferas e do mercado financeiro internacional no país. “A imprensa fala como se a ação dos EUA em território venezuelano fosse uma unanimidade, como se o Guaidó fosse uma unanimidade. Não é. Trata-se de mais um teatro dos norte-americanos para roubar as riquezas naturais da Venezuela. Nós somos contra qualquer violação da soberania nacional e estamos aqui para defender a autodeterminação dos povos ”, disse Pont.
O professor de Relações Internacionais, Ricardo Leães, fez uma palestra sobre o histórico geopolítico venezuelano e analisou a atual situação do país, que, devido aos bloqueios econômicos e sanções promovidas por grandes potências, enfrenta desde 2018 a inflação mais alta do mundo. “A situação é complicada e com o apoio de países como Brasil, Inglaterra, França e, principalmente os EUA, não deve melhorar tão cedo. O prognóstico não é bom, mas devemos sempre resistir e manter a esperança”, assinalou.
Para o secretário de Meio Ambiente da CUT-RS, Paulo de Farias, o capital financeiro internacional e o governo norte-americano estão de olho no petróleo venezuelano e, por isso, promoveram uma série de boicotes econômicos ao país nos últimos anos, com o objetivo de desestabilizar o governo Maduro e colocar alguém alinhado aos seus interesses no cargo mais importante da nação.
O evento contou com a presença de dirigentes do PT, PCdoB, PSOL, PPL, PCB, Partido da Causa Operária, A Marighella e Polo Comunista Luiz Carlos Prestes, bem como da CUT, CTB, Intersindical, CGTB, MST e MPA. Também participaram do ato militantes da Confederação Nacional das Associações de Moradores (Conam), Central dos Movimentos Populares (CMP), União Brasileira de Mulheres (UBM), Marcha Mundial das Mulheres, Associação de Juízes pela Democracia (AJD), Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz), Associação Cultural José Martí (ACJM), Fundação Maurício Grabois (FMG), Associação Riograndense de Imprensa (ARI), Sindicato dos Municipários de Porto Alegre (Simpa), Sindicato dos Servidores Federais do RS (SINDSERF), União da Juventude Comunista (UJC) e Levante Popular da Juventude.
Ao final do encontro foi lido e aprovado o Manifesto “Pela Paz, contra a Guerra, pela Autodeterminação do Povo Venezuelano” (leia íntegra abaixo).
Pela Paz, contra a Guerra, pela Autodeterminação do Povo Venezuelano
Os povos de todo o mundo assistem indignados as ações dos Estados Unidos e seus aliados – OTAN, OEA e Pacto de Lima – contra o povo da Venezuela. Desrespeitando a ONU e todo o Direito Internacional realizam uma escalada diplomática, econômica, midiática e militar contra aquele país sul-americano. Interferem em seus assuntos internos, instigam a guerra civil e ameaçam até uma intervenção militar.
Derrubando o preço internacional do petróleo impuseram uma guerra econômica roubando bilhões de dólares de suas reservas internacionais retendo os pagamentos de suas vendas de petróleo. Bloquearam suas operações financeiras e o fornecimento de produtos essenciais, inclusive alimentos e medicamentos. Mergulharam o País em uma grave crise sacrificando o seu povo e acusando o governo venezuelano de ser o responsável.
Está claro: o que move esta agressão é unicamente o interesse em controlar as maiores reservas petrolíferas do planeta, localizadas naquele País, o aspecto humanitário é apenas desculpa. A questão se agrava com o apoio da China e da Rússia à Venezuela e a advertência feita aos EUA para cessarem a intervenção. Deixando clara a possibilidade de uma guerra de grandes proporções, trazendo o caos ao nosso continente.
O atual governo brasileiro, servil aos EUA e sua política agressiva, endossou essas ações arriscando envolver nosso país num conflito internacional. A Constituição do Brasil determina em seu artigo 4º o respeito à “autodeterminação dos povos”, a “não intervenção”, a “defesa da paz” e a “solução pacífica dos conflitos”. Justamente o contrário do que está acontecendo.
A legitimidade do atual governo venezuelano é baseada em processos eleitorais. As últimas eleições foram antecipadas para 20 de maio de 2018 a pedido da oposição. Dela participaram 16 dos 19 partidos daquele País. Inscreveram-se seis candidatos, sendo que dois deles desistiram durante o processo eleitoral.
Nicolás Maduro obteve 67,84% e os outros 20,93% ,10,82% e 0,39% do total de votos. Acompanharam as eleições 150 observadores internacionais entre eles 14 comissões eleitorais de oito países, duas missões técnicas e 18 jornalistas de diferentes países. Todos atestaram a correção do pleito.
Desde 2013, Maduro fez 338 chamados ao diálogo e à paz e somente em 2017 fez 269 convites visando estabelecer um acordo mínimo de convivência. No início de 2018, na República Dominicana, tendo como mediador o ex-presidente espanhol José Zapatero, foi realizado um encontro buscando uma saída para a crise. Já disse estar disposto participar de um encontro em Montevidéu, considerado uma “boa iniciativa”, de um grupo de contato internacional, integrado por países da União Européia, do México e Uruguai, que iniciará no próximo dia 7 de fevereiro.
Agora os EUA e seus aliados, desrespeitando a autodeterminação do povo venezuelano, reconheceram um fantoche que se auto proclamou “presidente” do país. Não podemos aceitar que os EUA e seus aliados imponham aos outros países governantes de seu interesse, em desrespeito a todas as normas do Direito Internacional.
Por isso, em ato realizado em 5 de fevereiro de 2019, na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, Brasil, com a participação de diversos partidos, personalidades políticas, movimentos sociais entidades sindicais e estudantis aprovamos este Manifesto PELA PAZ, CONTRA GUERRA E PELA AUTODETERMINÇÃO DO POVO VENEZUELANOS.
Comitê Gaúcho em Solidariedade ao Povo Venezuelano
Com informações de Sul 21 CUT-RS.