Mudança anunciada em sistema do CPD pode cercear gestão das atividades de ensino

Em reunião realizada com a Pró-Reitoria de Ensino no dia 29 de outubro, servidores do Centro de Processamento de Dados da UFRGS (CPD) foram informados sobre a intenção da Reitoria de implantar um novo sistema eletrônico de gestão de atividades acadêmicas. A resolução, tomada sem a participação e aval dos técnicos que criam e mantêm os sistemas da UFRGS, pode restringir a capacidade decisória da Universidade na organização das atividades de ensino.

O novo sistema, chamado SIGAA, foi desenvolvido pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). De acordo com Ricardo Vieira, analista de TI e coordenador de Sistemas de Gestão Institucional do CPD, trata-se de uma programação em Java, linguagem cujo domínio no CPD  é muito limitado se comparado ao conhecimento das plataformas atuais que são base para os sistemas informacionais da UFRGS. Conforme o servidor, a UFRGS dispõe de um dos mais duradouros sistemas informatizados da área acadêmica no Brasil. “O sistema de ensino da UFRGS foi pioneiro em vários momentos da informatização acadêmica no país. A quebra de cultura e de conhecimento com a adoção de um sistema em linguagem Java iria imobilizar nossas áreas de sistemas e de suporte”, previne. “Tudo teria que ser aprendido, assimilado, caminhos seriam tomados para, logo ali, serem abandonados.”

Explicação da gestão e problemas além de técnicos

Na reunião da Pró-Reitoria de Ensino com o CPD, a justificativa para a mudança foi de que o CPD não atende às demandas da Universidade. “Nossa equipe é pequena, e sabemos das limitações, mas temos exemplos de rapidez de atendimento quando o assunto é dominado, como no caso dos ajustes para a mudança ‘estratégica’ da gestão de retirar a análise socioeconômica de recursos de ingressantes da ex-Prograd para a Prae (Pró-Reitoria de Asuntos Estudantis), feita em três ou quatro dias.”

Vieira aponta outros problemas, técnicos e políticos, da implantação do SIGAA. Um deles é a questão da equipe: a UFRN prevê necessidade de 12 pessoas para a migração. “Hoje o sistema de graduação tem cinco analistas de TI dedicados. Não tem mágica.” Além disso, salienta que se deve pagar à UFRN para ter o sistema, e a ação modifica uma cultura que colocou a UFRGS entre as Universidades com melhor apoio de TI, tanto em estrutura quanto sistema. “Se fosse o caso de estarmos começando, valeria a pena, mas temos cerca de meio século de automatização na Universidade.”

Questões políticas e institucionais

Segundo Vieira, Institutos Federais e Universidades que optaram por mudar de sistema tiveram que atualizar estatutos e legislação para que a adaptação fosse concluída. Em ultima instância, na UFRGS, essa troca pode pautar, inclusive, a revisão de Resoluções do CEPE e do CONSUN que dizem respeito ao ensino.

“Quando adotamos um sistema externo, ele vem em um pacote, e as customizações são limitadas. É como se alguém entrasse na nossa casa e redecorasse. Com o SIGAA, os conselhos terão que se adaptar ao sistema e, conforme essa ‘redecoração’, podem perder a liberdade de tomar decisões sobre Ensino, como mudar as regras de ingresso”, explica o servidor, acrescentando que esse tipo de mudança deveria ser analisada e aprovada pelos representantes da comunidade universitária em seus conselhos superiores. “O mérito de tal decisão deve ser considerado antes que se parta para possíveis avaliações de possibilidades.”

Fonte: ANDES – Seção Sindical UFRGS

Foto: Cadinho Andrade