As elites querem cercar a Redenção com grades, não com amor, esperança e liberdade
Por Rafael Berbigier de Bortoli
ATAQUE AO ESPAÇO PÚBLICO DURANTE A PANDEMIA
As elites querem cercar a Redenção com grades, não com amor, esperança e liberdade
O descaso do governo Bolsonaro, genocida, é evidente durante a pandemia. O presidente com “p” minúsculo, com “ps” de “parceiro da perpetuação da pandemia”, tratou com total irresponsabilidade a sua obrigação de defender a vida de todas/todos/todes brasileiros, desrespeitando todos os protocolos orientados pela OMS e por pesquisadores do Brasil e do mundo. Bolsonaro, com vários parceiros nos estados e nos municípios, sem esquecer de parte do Congresso Nacional e de sua familícia, incentivou aglomerações, o não uso de máscaras e fez pouquíssimo caso com a aquisição de vacinas. Não é à toa que chegamos a quase trezentas mil vidas perdidas pela covid-19 no Brasil, no pior momento da pandemia em nosso país.
E o que Bolsonaro e seus aliados – e também os que se dizem, agora, oposição, mas têm pleno acordo com a agenda do presidente de ajuste fiscal antipovo – fazem? Combatem o vírus e se preocupam com a população? Não, pelo contrário: atacam os direitos humanos, os direitos sociais Concedem, com “c” de “comam, se conseguirem” um auxílio emergencial extremamente insuficiente, após muita luta da oposição, que reivindicava pelo menos R$600,00 de auxílio ao povo necessitado. Flexibilizam (inclusive com ação no STF) a restrição necessária da circulação de pessoas nas ruas, que seria fundamental para conter a circulação do vírus, principalmente no quadro atual, de colapso do sistema de saúde em praticamente todo o país. Poderia, nesse contexto, continuar, mas também é necessário mencionar o “P” maiúsculo, de Potente e este “P” é para o SUS. Viva o SUS, que mesmo com grandes cortes na área da saúde, salvou e continua salvando, através da sua estrutura e das/os tralhadoras/es da área, milhões de vidas.
Agora, voltemos à desgraça. Dissertar sobre os inúmeros ataques ao povo, que, de forma covarde, canalha, estão sendo impetrados às/aos brasileiras/os, principalmente, aos vulneráveis socialmente, aos que lutam diariamente para ter o que comer, pagar suas contas, e, principalmente, àquelas/es desempregadas/os, subempregadas/os e às pessoas em situação de rua, demandaria um texto muito mais extenso. O oportunismo pandêmico das classes dominantes é evidente e, nessa esteira, os ataques são inúmeros: PEC da chantagem (emergencial), reforma administrativa, privatização das refinarias da PETROBRAS, privatização da ÁGUA no RS (da CORSAN, anunciada pelo Eduardo Leite – este Leite não nos Engana),…, a lista é longa. Tudo em meio à PANDEMIA. Quem pagará a conta? Os banqueiros, os latifundiários, os que compram mansão de 6 milhões? Não. Quem pagará a conta será os que menos têm, os de baixo, quem tem sua força de trabalho explorada. Vamos, enfim, ao ataque central deste modesto artigo: o cercamento ao parque da Redenção, localizado em Porto Alegre.
Os vereadores aliados ao prefeito de Porto Alegre, em conluio claro com Sebastião Mello, o prefeito também com “p” minúsculo, alinhado com as políticas de ajuste fiscal e de flexibilização do isolamento social de Bolsonaro, desengavetaram um projeto. O projeto de cercamento físico de parques, dentre eles o parque da Redenção. Adicionalmente aos ataques inadmissíveis aos direitos humanos à vida, à saúde, ao acesso a esses direitos fundamentais pela população, através das medidas que limitarão a oferta de serviços públicos gratuitos e a contratação de servidores públicos (muitos do SUS), vêm, também, em plena pandemia, afrontar o patrimônio público.
O parque da Redenção tem esse nome justamente pelo sentimento de redenção das negras/negros escravizadas/os, quando de suas liberdades, em virtude da forte presença negra nesse espaço. A Redenção, atinga Várzea e, após, o Campo do Bom Fim, é território negro: lugar onde ocorria, pelo menos desde os meados do século XIX, cultos religiosos de matriz africana, os batuques da Várzea, como o Candombe da Mão Rita. A Redenção é sinônimo de liberdade antes de qualquer um de nós termos nascido, e esse território negro é assim reconhecido, amplamente, pelos menos para grande parte dos porto-alegrenses, sobretudo os que frequentam o, agora, forçosamente chamado por alguns, de “parque Farroupilha”.*
Sabemos, nesse contexto, que a intenção principal do cercamento não é outro que não restringir o acesso a um patrimônio público tombado, elitizando o parque, restringindo a liberdade de expressão e de manifestação dentro desse espaço que deve ser público em todos os sentidos, inclusive e principalmente no seu acesso e na liberdade de se expressar nesse acesso livre. Atualmente, o parque mais popular de Porto Alegre, reduto da diversidade e de manifestações culturais plurais pela democracia e pela diversidade, a Redenção está sob ameaça das elites Porto Alegrenses. Precisamos reagir.
Além de não pouparem esforços para nos matar, através do descaso ao enfrentamento à pandemia, muitos querem acabar com todos os direitos do povo: à saúde, à educação, à cultura, ao patrimônio cultural. Continuemos VIVOS e RESISTAMOS! Há (À) LUTA! Há AMOR, ESPERANÇA e anseio de LIBERDADE entre nós!
Rafael Berbigier de Bortoli
*Informações obtidas em: VIEIRA, D. M. Territórios Negros em Porto Alegre/RS (1800-1970): geografia histórica da presença negra no espaço urbano.2017. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2017. Disponível em: <https://lume.ufrgs.br/handle/10183/177570>. Acesso em: 19 mar. 2021.
** O ATUAPOA produziu uma nota contra o cercamento da Redenção, que está circulando no whatsapp. A ideia é coletar assinaturas de entidades, grupos, coletivos até domingo. Procure o ATUAPOA ou entre em contato que repasso maiores informações. Saiba mais aqui.