No dia do orgulho LGBTQIA+ colegas da base comentam a importância da visibilidade e da luta contra o preconceito

Colegas LGBTs da base da Assufrgs conversaram com a reportagem do sindicato e debateram a importância sobre a visibilidade desta temática, na desconstrução dos preconceitos e em como este movimento deve estar atrelado à luta de classes em busca de uma nova ordem para nossa sociedade.

O dia 28 de junho é celebrado internacionalmente como o Dia do Orgulho LGBTQIA+. devido ao levante da comunidade contra uma violenta abordagem policial no bar Stonewall Inn, um espaço que recebia o público LGBTQIA+ em Nova York. no dia 28 de junho de 1969. O levante popular, há 52 anos, reverberou no mundo inteiro e replicou internacionalmente, desde então a luta pelos direitos da comunidade LGBTQIA+ Em tempo: L, de lésbicas. G, de gays. B, de bissexuais. T, de trans. Q, de queer. I, de intersexo. A, de assexuais, arromânticas e agêneros. O sinal de mais abrange toda a diversidade que as letras anteriores não tenham alcançado, como pansexuais, não-binários, etc. 

O Brasil registra índices altos de mortes violentas dessa população. O relatório “Observatório das Mortes Violentas de LGBTI+ no Brasil – 2020”, produzido por pesquisadores do Grupo Gay da Bahia e do grupo Acontece Arte e Política LGBTI+, mostra que nos últimos 20 anos mais de 5 mil pessoas da comunidade foram assassinadas ou se suicidaram por LGBTfobia. 

Hoje, em pleno Governo Bolsonaro, a mera discussão de identidade de gênero é atacada em diversas frentes institucionais. Direitos conquistados depois de décadas de reivindicações são ameaçados. Porém, a resistência e luta da comunidade LGBTQIA+ mostra o caminho rumo à uma sociedade melhor.

A voz da comunidade LGBTQIA+ da base da Assufrgs

Mariane Quadros, TAE na Radio da Universidade UFRGS, Coordenadora da ASSUFRGS Sindicato.

A colega Mariane Quadros, da Rádio da UFRGS, acredita que luta pela visibilidade LGBTQIA+ deve andar lado a lado com a luta de classes, para a transformação de uma nova ordem, onde todos possam viver sem opressões. “Dentro desse sistema atual nós nunca vamos conseguir nos livrar de todas as opressões. Precisamos sempre atrelar a luta LGBT à luta de classes. São duas lutas que andam lado a lado. A luta por visibilidade, é agora, é urgente! Temos que lutar por direitos, sim, dentro da sociedade capitalista, mas temos que ter a perspectiva de romper com essa sociedade para gente realmente conseguir se tornar sujeitos livres e igualitários em termos de direitos.”

Sobre o ambiente de trabalho, Mariane afirma que apesar da UFRGS ser um espaço de pensamentos mais abertos, ainda são comuns alguns comentários e piadinhas. “A nossa posição tem que ser de chamar a atenção dos colegas que falam algo descabido. Uma crítica até fraterna no início, explicando o por que de não se expressar da seguinte forma…. Acho que é nestes momentos que a gente consegue dialogar e fazer as pessoas perceberem e mudarem seu comportamento em relação à opressão da comunidade LGBTQIA+”

Rafael Berbigier, TAE da Fabico UFRGS.


O Técnico-Administrativo em Educação da Fabico, Rafael Berbigier, comenta que abriu publicamente a sua bissexualidade recentemente, em 2019, após sofrer uma agressão no parque da redenção. “Fui agredido na redenção enquanto estava ficando com um cara, estávamos nos beijando. Apesar de conseguir escapar da agressão, dos três homens que partiram para cima da gente, eu fiquei com marcas e cicatrizes na sobrancelha até hoje. Esse é um exemplo da importância da gente fortalecer a visibilidade LGBTQIA+. Não foi só comigo, a gente vê todos os dias pessoas LGBT sendo assassinadas espancadas, então fortalecer a necessidade de se respeitar o direito de amar é fundamental. A liberdade individual deve respeitar sempre a diversidade da coletividade.”

“É fundamental que as pessoas da comunidade cada vez mais se coloquem, se pronunciem. Mas é claro que sabemos que cada um tem o seu tempo de fazer isso, para reafirmar que somos muitos, somos milhões.”, finaliza Rafael. 

Rodrigo Fuscaldo, TAE no ICTA UFRGS.


Rodrigo Fuscaldo, colega técnico-administrativo do ICTA UFRGS, comenta sobre a importância da visibilidade. “É importante me colocar como LGBT nos espaços de trabalho para que as pessoas lgbts mais jovens me vejam como um referencia, de possibilidade para o seu futuro. E também se colocar na questão política, é também um espaço para os lgbts. Muitos de nós têm uma certa politização logo no início por se deparar com as contradições do mundo que  agente vive, com a opressão do sistema, mas muito pouco se organizam de fato para mudar essa realidade concreta. Por isso faço um chamado e convido a população LGBT para tomar partido. Lutar ao nosso lado na pauta maior que a gente tem hoje que é o Fora Bolsonaro. Chamar os lgbts pra rua para dar um fim nesse governo que já matou mais de 500 mil pessoas, além, é claro, de ser um presidente que desde a hora 1 do governo ataca essa comunidade.”   

Para Rodrigo a realidade só irá mudar a longo prazo. “Precisamos de conscientização, realizar atividades sobre o tema lgbt, explicar a questão das pessoas trans e combater ativamente quando presenciamos um ato de transfobia. Sem contar a inclusão dessas pessoas na universidade, através das cotas. Porém, a lgbtfobia está atrelada ao capitalismo de modo semelhante ao racismo e machismo. Só superaremos isso em uma nova sociedade. As lutas identitárias tem que estar inseridas juntas à luta de classes, isso de forma alguma atrasa ou trabalha a luta dos socialistas de forma geral. Mas precisamos entender que a luta identitária, só ela, não resolve nossos problemas, para além de conquistas pontuais.  Por isso a luta contra a lgbtfobia deve estar intrinsecamente ligada à luta classista.” 

Wellington Pereira, TAE aposentado da UFES e Coordenador LGBTI da FASUBRA


A FASUBRA vem trabalhando para possibilitar que a luta da comunidade LGBT esteja cada vez mais presente na base da federação. Wellington Pereira, é o Coordenador de Lutas LGBTI da Fasubra e comenta sobre a importância da criação da pasta. “Falar sobre a coordenação LGBT da Fasubra, é falar da companheira Antonieta Xavier, que é da base da Assufrgs. Ela foi uma das válvulas propulsoras da criação de uma coordenação lgbti na federação. Nós não tínhamos essa pasta e ela junto com o companheiro Diego, do Mato Grosso, organizam o primeiro seminário lgbt da federação. Já fomos para o congresso com uma resolução do seminário, para a criação desta pasta. Antes, essas discussões ficavam veiculadas à questões de gênero, raça e etnia, com um universo maior de minorias.” 

“Nós trabalhamos em uma base gigantesca, onde há uma diversidade enorme em todo o país. Somos mais de 150 mil trabalhadores na base da Fasubra. Portanto há dificuldade de trabalhar estes temas. Em que pese a gente trabalhar numa universidade e achar que todos nós somos desconstruídos, não é bem assim…. Temos homofóbicos, machistas e racistas entre nós, e essa coordenação vem no sentido de formar e educar as pessoas da base.”

Desde a sua criação, em 10 de maio de 2018, a pasta LGBTQIA+ da Fasubra já realizou seminários em Brasília e Rio de Janeiro, além de eventos online. A coordenação realiza ainda um trabalho de incentivo nas bases para que elas criem coordenações ou grupos de trabalho que possam discutir essa temática.

Esta reportagem foi uma ação desenvolvida pelo CEDEM – Centro de Documentação e Memória da ASSUFRGS.

Com informações da CNN e UOL Notícias