Julio da Silveira, liderança da classe trabalhadora e da comunidade negra de Porto Alegre é homenageado nos 101 anos da Cooperativa da Escola de Engenharia

Hoje, neste dia 07 de fevereiro, a Escola de Engenharia da UFRGS comemora 101 anos de fundação e para celebrar esse momento, a Escola, junto com a ASSUFRGS Sindicato e o CEDEM, realizaram um evento de inauguração de uma placa que relembra e homenageia Julio da Silveira, um homem negro da classe trabalhadora que foi um idealizador da Escola de Engenharia.

O evento ocorreu às 14H na Escola de Engenharia. Contou com a presença dos Coordenadores gerais da Assufrgs Sindicato, membros do CEDEM, Diretor da escola de Engenharia e membros da família Silveira.

A cerimônia se iniciou com a fala de Frederico Bartz, Coordenador da ASSUFRGS e membro do Comitê Gestor CEDEM, que ressaltou a importância deste resgate da história de Júlio da Silveira. “No Brasil temos poucos espaços públicos para homenagear a memória da classe trabalhadora. Pelo senso comum, a história do Brasil é feita pelas elites, uma história que é feita apenas de grandes homens, latifundiários, banqueiros e chefes militares, mas a classe trabalhadora tem a sua história apagada dos registros e da memória coletiva. Quando nós marcamos um espaço, especialmente um local como este, como um ponto de memoria, com uma placa que fala sobre a memória da classe trabalhadora, nós estamos dizendo ‘nós estamos aqui a muito tempo, estamos aqui organizados, lutando, e vamos continuar!’

Na sequência, a palavra foi passada para Tamyres Filgueira, Coordenadora-geral da ASSUFRGS que pontuou a importância de enaltecer os feitos da população negra e resgatar essa história que sempre sofre tentativas de apagamento. “É muito importante esse resgate de Julio da Silveira, como homem negro, que estava dentro da universidade e hoje ver que toda a sua família se mantém também dentro da universidade”

Julio da Silveira era um trabalhador negro, nascido um homem livre em 1884, antes da abolição. Julio viveu nas comunidades negras de Porto Alegre, na Cidade Baixa e teve um grande papel como líder associativo dos trabalhadores e dos movimentos negros.

Julio da Silveira  foi o gerente da Cooperativa da Escola de Engenharia de Porto Alegre, durante mais de 15 anos. Foi também um dos fundadores e primeiro presidente, em 1907, do clube de futebol amador Rio-Grandense, de Porto Alegre, integrante da Liga dos Canelas Pretas, composta somente por homens negros. Foi ainda gerente do periódico “O Exemplo”, jornal semanal pós-abolicionista brasileiro, porta-voz dos negros do sul do país. O Exemplo foi o mais importante jornal do seu tipo no Brasil e o primeiro com periodicidade até as primeiras décadas do século XX.

Glacira Silveira, neta de Julio da Silveira, se fez presente na cerimônia e falou representando toda família Silveira. “É muita emoção estar aqui hoje, sentindo o que eu estou sentindo, estou muito agradecida. Temos nossa história muito forte em nossa família e que ela não se acabe. Aqui temos quatro gerações da família Silveira e agradecemos muito a todos por essa pesquisa de resgate, pois ela é muito importante. Espero que outros nomes importantes venham também.” Ela ainda conclui dizendo que tudo ocorreu na Cidade Baixa, “nascemos na Cidade Baixa, vivemos na Cidade baixa, e ainda tem quem viva!

Ao final, foi pedido da Teresinha da Silveira, neta de Júlio da Silveira, que inaugurasse a placa. Ela foi presenteada com um buque de flores e aplaudida enquanto retirava o lenço que cobria a placa. E assim, a história de Julio da Silveira se fez marcada na parede da Escola de Engenharia da UFRGS, o que significa muito para toda uma classe e toda uma comunidade. Que nenhum trabalhador negro ou negra seja apagado da história, seus papeis foram essenciais para a construção do mundo que temos hoje.