Governo Federal comunica que desligará rádios MEC-AM e Nacional
No ano em que a Rádio MEC, a mais antiga do Brasil, estaria completando 100 anos, o presidente Jair Bolsonaro a presenteia com o comunicado de que ela será fechada, junto com a Rádio Nacional, criada em 1936, pioneira na produção e transmissão de radionovelas, programas de humor, de auditório e do radiojornalismo como o programa “Repórter Esso”.
O sinal será desligado no dia 31, segundo informou a coluna de Lauro Jardim, d’O Globo. O fechamento, no entanto, ainda não foi confirmado oficialmente.
A sigla MEC quer dizer “Música, Educação e Cultura”, no ar desde 1923, foi doada ao Ministério da Educação em 1936. A rádio funciona no Rio de Janeiro, com cerca de 50 mil registros e produções, a emissora possui um patrimônio de gravações de depoimentos que vão de Getúlio Vargas a Monteiro Lobato, passando por crônicas de Cecília Meireles e Manuel Bandeira.
Diversas entidades divulgaram notas públicas em repúdio à decisão. A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) publicaram nota conjunta em defesa das emissoras em que ressaltam: “Esse projeto, nocivo aos interesses do povo brasileiro, não é de agora. Em 2019, um ano depois de o atual presidente, Jair Bolsonaro, tomar posse, o seu governo ensaiou liquidar a Rádio MEC AM. Diante da resistência, acabou recuando. Agora, volta à carga. A única explicação possível para a medida anunciada é a conhecida aversão do atual governo a tudo o que é público”.
O Núcleo de Pesquisa de Rádio da UFRGS publicou uma nota em suas redes sociais. “Como grupo de pesquisadores e profissionais de rádio que luta há três décadas pela gestão democrática e pelo uso socialmente responsável desse importantíssimo meio de comunicação, tão relevante para a história e desenvolvimento deste país, causam-nos profunda preocupação as notícias sobre o desligamento da Rádio MEC AM e da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, anunciados recentemente pelo Governo Federal.“
A Frente em Defesa da EBC e da Comunicação Pública e do Comitê em Defesa das Rádios MEC e Nacional divulgou um manifesto com quatro principais reivindicações:
- Manter em operação com qualidade de áudio e potência as duas emissoras AM no Parque de Itaoca, em São Gonçalo, durante a migração plena para a faixa FM;
- Migrar a Rádio MEC AM RJ para o dial FM do Rio de Janeiro, assim como foi feito com a Nacional, que está em caráter experimental na frequência estendida 87,1 FM;
- Conceder canais FM no dial de municípios do Norte e do Sul fluminenses para suprir a necessidade dos ouvintes das rádios MEC AM e Nacional AM;
- Aprovar na ALERJ os projetos de lei da Deputada Mônica Francisco (PSOL) e do Deputado Waldeck Carneiro (PT) registrando as emissoras como Patrimônio Histórico e Cultural Imaterial do Estado do Rio de Janeiro.
O governo expões o seu ódio e desprezo pela cultura e pela comunicação pública.
Fica nítido o projeto intencional que o governo possui de exterminar as formas de expressão cultural, educacional e de serviço público em nosso país. Simplesmente encerrar um século de rádio, é dizer que esse setor não merece investimento, e logo, afirmar que os demais setores da comunicação e educação tampouco.
É necessário construir um projeto contrário a isso, que desenvolva, valorize e potencialize as áreas de cultura e educação. Um projeto que leve informação e comunicação de qualidade a todas as camadas sociais e não essas medidas que visam alienar ainda mais a população politicamente.
Não ao fim da Rádio MEC AM e a Rádio Nacional. Não a esse governo!
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil