Reitor do IFRS e vice-reitora da UFCSPA falam à Assufrgs sobre reunião com governo Lula
A comunicação da ASSUFRGS Sindicato entrevistou na tarde dessa quinta-feira (19) o reitor do IFRS, Júlio Xandro Heck e a vice-reitora da UFCSPA, Jenifer Saffi. Perguntamos a eles as impressões e o balanço do encontro entre reitores, presidente Lula e ministros da educação (Camilo Santana) e da ciência e tecnologia (Luciana Santos).
Confira abaixo o que disseram Heck e Saffi à reportagem da ASSUFRGS:
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ASSUFRGS Sindicato – Professor Júlio, que balanço você faz sobre o encontro realizado no dia de hoje?
Júlio Xandro Heck (Reitor do IFRS) – A reunião de hoje representa uma mudança brusca na relação entre os reitores e o governo federal. Eu sou reitor há mais de cinco anos e a gente não tinha tido um momento como esse, de poder ouvir o ministro e o presidente… de eles nos dizerem o que esperam da gente e a gente fazer o mesmo. A linha do encontro foi no sentido da reconstrução das políticas públicas.
AS – O presidente comentou sofre o reajuste dos servidores das universidades e institutos federais?
JXH – O presidente reconhece. Falou isso mais de uma vez, da defasagem salarial das carreiras, tanto da carreira técnica, quanto da carreira docente. O presidente disse que sabe que isso é uma questão que tem que ser tratada com celeridade. Não deu data, não deu percentuais, que é o que os colegas servidores querem saber, o que é justo né… mas se comprometeu em agir e resolver. Ele também falou sobre o reajuste de bolsas de mestrado e doutorado, Capes e CNPq, um aceno explícito mesmo. Acho que foi muito bacana, por ser uma primeira vitória, quando o governo reconhece que tem essas questões. E ao mesmo tempo, comentou da recomposição de orçamento, o presidente falou disso mais de uma vez, o ministro também: de colocar a educação como prioridade. Ele disse que espera muito de nós, servidores públicos. Que saíamos dos nossos muros, que universidades e institutos olhem para fora, que ajudem a resolver os problemas que o Brasil tem enfrentado. De uma forma geral foi muito animador, muito otimista, eu diria. Demonstrou um conhecimento muito grande dos nossos problemas. Eu entendo que é um começo importante, mesmo que a solução não apareça na próxima semana.
AS – Então Lula reconheceu o arrocho dos servidores das IFEs?
JXH – Sim, o presidente reconhece. Para ser juto com as palavras dele, ele disse que é uma dívida que o governo federal tem com os servidores e que precisa ser resolvido em breve. Inclusive quatro reitores de universidades, e quatro reitores de institutos federais, falaram no microfone. Em suas falas, pontuaram a questão da remuneração dos servidores. Os reitores apresentaram ao presidente a necessidade de cuidar das pessoas que tocam as universidades e IFs. Repito, o presidente não deu nem data, nem percentual, mas acho que quem deve fazer isso é a ministra Esther (Ministra da Gestão), que deve estar preparando imagino eu uma proposta para apresentar ao Ministério da Fazenda, que vai bater o martelo. Mas o presidente deixou claro que reconhece, que viemos de muitos anos sendo maltratados.
AS – O ministério da educação tem falado muito sobre a questão de priorizar a educação básica. Foi comentado sobre como os institutos federais podem seguir ajudando e ampliando nessa frente?
JXH – Não. Não tivemos tempo de tocar em assuntos pontuais de uma instituição ou outra. Meu entendimento é que hoje se trata da simbologia, de ter os reitores ali reunidos com o presidente. De conversar sobre questões estruturantes.
AS – Mas o senhor vê os IFs como tendo um protagonismo maior também nessa questão da educação básica?
JXH – Claro. São dois papéis que a gente tem na questão da educação básica. Um é o papel direto, que nós temos o ensino médio integrado. É o melhor ensino médio do Brasil. Pra além disso, os IFs têm um papel muito importante na formação dos professores, que vão dar aula no ensino básico. A gente tem que oferecer licenciatura, até por uma questão legal. Uma meta a ser atingida é ampliação do ensino médio nos Institutos Federais, aumentar a oferta de vagas, e também a formação dos professores. Confesso pra ti que saio bastante animado de ter ouvido em uma valorização desse papel. Pra nós, que somos do Instituto Federal, somos colocados historicamente, às vezes, no segundo plano.
AS – Sobre a questão das intervenções nas universidades federais? Foi falado sobre a possibilidade de afastar os interventores que seguem na cadeira?
JXH – O presidente foi muito enfático em dizer que ele sempre irá respeitar a vontade das comunidades, a partir da lista tríplice que chegar a ele. Ele disse que irá nomear o primeiro colocado. Ele não fez menção do que ele vai fazer com os reitores já nomeados pelo governo passado. Até porque eu acho que ele tem algumas limitações, quando o reitor que está no cargo fez parte da lista tríplice. Não faço aqui uma avaliação de mérito, mas jurídica. Acho que ele teria dificuldades de romper um mandato de um reitor que esteve na lista tríplice. Impressão minha: ele não fez menção e acho que ele não o fará.
AS – Lula não chegou a comentar sobre a questão da paridade nas consultas?
JXH – Não, não foi pauta. Não sei se por não estar apropriado disso, mas ele não comentou. Acho que é uma questão importante. Para nós, Institutos Federais, isso não é um problema, mas para as universidades, com certeza. Acho que esse é um desafio e as universidades devem aproveitar essa oportunidade, de um governo amistoso, e resolver isso, resolver pro resto da vida. Para não passar outra vcez pelo que a gente passou.
AS – E uma questão de bastidor: como estava o clima no encontro, entre os reitores num geral? E como se comportaram os reitores interventores que estavam presentes?
JHX – Olha, vou me permitir não comentar sobre reitores específicos, pois são meus colegas, não é? Mas o que posso te falar é do clima geral. Algo que nunca tinha vivido. De alegria, de esperança. Foram mais de 100 reitores. Acredito que foi um momento histórico, de aproximação e abertura de diálogo.
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ASSUFRGS Sindicato – Vice-reitora, que balanço a senhora faz do encontro entre os reitores e o governo federal na manhã de hoje?
Jenifer Saffi (Vice-reitora da UFCSPA) – O sentimento é de alívio, de alegria e de esperança. Foi muito positivo. A forma como nós fomos tratados. Foi uma fala muito respeitosa, de gratidão pelas universidades, de respeito por tudo o que a gente fez. Tanto a fala dele (Lula) como a dos ministros da educação e ciência e tecnologia. A gente pode, a partir daqui, acreditar que vamos ter uma reconstrução do nosso país e que a educação e a ciência serão grandes pilares desse governo. Essa é a certeza que fica dessa reunião que tivemos. Agora o diálogo foi restabelecido.
AS – Sobre a questão específica da UFCSPA, que é a única federal da saúde, como os anúncios de uma retomada dos investimentos, em ciência e tecnologia, podem impactar a universidade?
JS – A própria ministra falou muito sobre isso. Que a ciência será importante para questões estratégicas de saúde e segurança alimentar. A saúde perpassa todas essas questões estratégicas do país. Vai ser um retomada de investimentos, sem dúvida, claro que não se falou ainda de valores. A LOA deve ser retomada, mas na nossa universidade a gente tem muitos projetos que são estratégicos e que são linhas de pesquisa que estão muito em consonância com o que esse governo hoje propõe. O presidente falou muito disso, de a gente (universidades) fazer nossa expansão pautada nas necessidades do nosso país. Para que a gente deixe de ter um país em desenvolvimento e seja realmente soberano. Mais importante, é saber que para a gente ter esse país que todos queremos, é através de investimento em ciência, tecnologia e educação. Que era tudo o que queríamos ouvir, e que não ouvimos nos últimos quatro anos.
AS – A UFCSPA tem hoje alguma obra paralisada por falta de verba? Se sim, as sinalizações de investimento já possibilitam “bater o martelo” de alguma retomada?
JS – Nesse momento nós ainda nem iniciamos nosso maior projeto, que é a Clínica da Família, muito pelos cortes que tivemos. Ao contrário de muitas universidades que tem obras iniciadas e paralisadas, nós felizmente não estamos nessa situação. Aliás, a boa notícia é que muito em breve nós estaremos inaugurando o nosso Restaurante Universitário, uma grande demanda da comunidade. Isso conseguimos executar, com atrasos, devido aos cortes, mas a Clínica da Família ela ficou bastante prejudicada. Agora daqui pra frente, é nossa meta. Claro, temos também na universidade muitas obras internas nos prédios, de laboratórios que precisam ser reformulados, projetos menores de reestruturação de espaço físico que precisamos avançar, e que devem agora acontecer a todo vapor.
AS – Em algum momento da reunião o governo federal citou a questão do reajuste dos servidores públicos das universidades?
JS – Não foi comentado em detalhes. O que eu soube é que tem uma conversa entre a direção da Andifes e o Ministério da Educação, e com certeza essa pauta estará na mesa com ele também. Mas eu confesso que saio com bastante esperança que isso irá ocorrer, pois eles sabem o quanto está defasado. Esse reconhecimento existe. E até o corpo técnico escolhido pros ministérios, indica isso. A nova Secretaria de Educação Superior (Sesu), será a ainda reitora da UFRJ, Denise Pires de Carvalho, que conhece todas nossas demandas. Então acredito que isso venha a acontecer nas próximas semanas.
AS – E a questão dos interventores, reitores que não estavam no topo da lista tríplice, e mesmo assim foram nomeados por Bolsonaro? Alguma sinalização no sentido de afastamento?
JS – O que o presidente falou de forma muito enfática, e foi muito aplaudido, é que a autonomia será respeita, que quem escolhe reitor é a comunidade universitária. Ele não falou o que fará com os interventores, mas já deu o tom de como será no governo dele. O que a gente ainda espera é poder avançar nessa pauta do fim da lista tríplice. Acho que isso é algo que precisamos avançar, já que os IFs não têm isso.
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A reportagem da ASSUFRGS entrou em contato com a assessoria de imprensa da UFRGS, para uma palavra do reitor Carlos Bulhões, que também estava presente no encontro. Porém, não conseguiu um retorno ainda no dia de hoje. Saiba mais sobre o encontro entre reitores e governo federal, clicando aqui.
Foto em destaque: Reprodução redes sociais @ufcspaoficial e @julioxandro