Pesquisadores do IPH UFRGS afirmam que desastre no Vale do Taquari poderia ter sido previsto 24h antes
Em nota, Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) também avalia que “a cadeia de prevenção e alerta não funcionou adequadamente”
O Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) emitiu uma nota na qual afirma que dados envolvendo o Rio das Antas e o acumulado de chuvas naquela região permitiam saber, com horas de antecedência, que havia potencial de desastre no Vale do Taquari, como ocorreu na semana passada. No documento, assinado por nove professores (leia a íntegra, clicando aqui), o instituto também avalia que o sistema de prevenção e alerta à população não funcionou adequadamente.
De acordo com o IPH, às 17h do dia 4 a destruição da ponte de ferro sobre o rio das Antas (foto abaixo) já indicava prováveis danos em cidades como Lajeado. No mesmo momento, monitoramento de chuva do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) indicava precipitação acumulada de 280 mm desde 1º de setembro.
“Na atual era da informação, a sociedade gaúcha não pode mais tolerar que famílias se refugiem em telhados durante inundações que poderiam ser previstas com o monitoramento adequado e com um sistema de previsão robusto, para o qual já existe tecnologia disponível”, pontuam os pesquisadores no documento.
Os pesquisadores acrescentam que havia dados excepcionais de chuva acumulada desde o dia 1º de setembro em medição no município de Serafina Corrêa, na área dos rios Carreiro e Guaporé — que se conectam ao Taquari. Também no dia 4, segundo os pesquisadores, a Usina Hidrelétrica Castro Alves, localizada 180 quilômetros de Lajeado, registrava uma vazão de água que permitia perceber a situação extraordinária.
“A água da chuva que caiu em Serafina Corrêa passou pelo Rio Taquari em Lajeado. A água que derrubou a ponte de ferro em Nova Roma do Sul também passou pelo Rio Taquari em Lajeado, assim como a água que deixou em pânico os responsáveis pela Usina Castro Alves. Isso demonstra que era possível saber, com quase 24 horas de antecedência, que a cheia do Rio Taquari em Lajeado seria de grande magnitude”, diz trecho da nota, colocando como ponto crítico da tragédia a destruição de uma casa em Lajeado que levou a morte de três integrantes de uma família.
No trecho seguinte, destacam que havia menos tempo disponível para agir em Muçum e Roca Sales, mas que, ainda assim, seria possível prever os danos com horas de antecedência.
“Nas outras cidades atingidas no Vale do Taquari, como Roca Sales e Muçum, a antecedência entre os fatos observados a montante, e as inundações locais não é tão grande como em Lajeado, mas ainda assim seria possível prever, com várias horas de antecedência, que uma inundação com potencial de desastre iria ocorrer”.
Pesquisadores sugerem melhorias nos alertas
Na conclusão da nota, os professores trazem uma série de ações “para reduzir a vulnerabilidade da sociedade frente a eventos extremos que possivelmente serão intensificados em decorrência das mudanças climáticas globais”. As medidas são compiladas em “urgentes e prioritárias”, de curto e de médio e longo prazo. (Veja abaixo algumas ações propostas)
- Melhorias no sistema de alerta à população, com utilização de diferentes alternativas de comunicação (telefone celular, sirenes, alto‐falantes e outros) e com maior detalhamento das informações e das ações necessárias, buscando maior eficácia na comunicação;
- Fortalecimento dos sistemas de monitoramento, previsão e alerta existentes, com maior quantidade de dados de precipitação e de níveis d’água nos rios, de modo a permitir maior informação para a tomada de decisão;
- Fortalecimento das equipes da Defesa Civil, com incremento efetivo em equipamentos, pessoal e treinamento;
- Instalação de uma rede densa de monitoramento hidrológico e hidrometeorológico automatizado e robusto, capaz de garantir a continuidade de medições e transmissão das informações mesmo quando há falta de energia elétrica, quando os níveis da água são superiores aos níveis máximos já registrados e nas condições mais adversas, com a disponibilização de dados em tempo real;
- Elaboração de estudos regionais de zoneamento de áreas inundáveis, incluindo considerações de alteração dos perigos de inundação e de eventos extremos através da análise de cenários de mudanças climáticas, para planificação de usos adequados.
“A gestão de risco de desastres deve ser conduzida em tempo integral, de maneira contínua, e não somente durante ou logo após a ocorrência de desastres. Dentre as fases da gestão de risco, a prevenção é a mais importante e a que costuma surtir maiores efeitos”, avaliam os docentes.
Com informações da reportagem Gabrikel Jacobsen no GZH e G1RS
Foto: Mateus Bruxel/Agência RBS