Cheia do Guaíba: DMAE público salva cidade enquanto Melo propõe apenas R$ 4mil para contenção de cheias em 2024
Nesta semana, o Guaíba atingiu 3,46 m no Cais Mauá, superando em quase meio metro a cota de inundação na região, que é de 3 m. A marca é a mais expressiva desde a enchente de 1941, quando as águas chegaram a 4,75m no Centro Histórico. Segundo a Defesa Civil Municipal, cerca de 1.000 pessoas foram removidas das suas casas por agentes do órgão desde o agravamento da cheia, sendo a maior parte dos atendimentos no bairro Arquipélago.
O alagamento de várias ruas do 4º distrito atingiu também os trilhos da Trensurb na altura da estação São Pedro. A situação está sendo normalizada nesta quinta-feira (23). O bairro Ipanema, na zona sul, enfrentou grande alagamento, com situação crítica na Avenida Guaíba, o mesmo ocorreu no bairro Praia de Belas, com a falta de vasão do escoamento da água, devido à cheia do estuário
DMAE público salva Porto Alegre
A maior cheia desde 1941 em Porto Alegre comprova que o DMAE é um bem público e estratégico para a população da capital gaúcha. Vítima do ataque privatista da Prefeitura de Sebastião Melo, cabe ao DMAE salvar a cidade das cheias. Além de captar e tratar a água que está no Guaíba e precisa chegar até as torneiras da cidade, desde 2019 o Departamento Municipal de Água e Esgotos cuida da retirada das águas que estão dentro da Capital e devem voltar para o estuário. Assim, manutenção e operação das comportas e das casas de bombas elétricas é responsabilidade do departamento. O Sindicato dos Municipários de Porto Alegre manifestou nas redes sociais: “Na hora em que a cidade mais precisa são os servidores do DMAE que estão de prontidão! E quando não tiver mais servidores, quem vai fazer? Já extinguiram o DEP e querem conceder o DMAE!”.
Em setembro, o Simpa Cores-DMAE lançou uma campanha contra a privatização/concessão/parceirização do Departamento. A série conta com seis vídeos que abordam os motivos pela não efetivação do Contrato de Estruturação Projeto nº 19.2.0506.1, para delegação dos serviços públicos de fornecimento de água e esgotamento sanitário no Município de Porto Alegre.
Melo prevê valor irrisório para prevenção de cheias
O Prefeito Sebastião Melo previu na Lei Orçamentária de 2024, apenas R$4.000 mil para melhorias no sistema de contenção contra cheias em toda a cidade. Segundo a vereadora Karen Santos, a proposta “é profundamente inadequada, considerando a magnitude do problema. Essa quantia é insuficiente para lidar com as consequências das enchentes, representa uma clara negligência em relação à segurança e ao bem-estar da população”.
Segundo a vereadora, “o contraste entre os recursos destinados ao controle de cheias e aqueles alocados para publicidade do prefeito é chocante. A destinação de R$15 milhões de reais para a Publicidade do Gabinete do prefeito em meio a uma crise evidencia uma inversão de prioridades, deixando claro que a gestão parece priorizar a imagem política em detrimento das necessidades básicas da população.”
Pesquisadores da UFRGS detalham importância da prevenção às cheias
Sem o sistema de proteção contra cheias, a área do Centro de Porto Alegre, bem como a porção Norte da Capital estariam completamente alagadas pelas cheias da águas do Guaíba, decorrente das chuvas dos meses de setembro e novembro de 2023, aponta um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O cenário observado na ausência do sistema composto por 14 comportas, 23 casas de bombas e 24 km de diques externos e internos é alarmante.
A partir de uma simulação cartográfica, operacionalizada pelos professores Fernando Dornelles, Joel Goldenfum e o doutorando Iporã Possantti, do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da UFRGS, foi possível estimar que os bairros Navegantes, São Geraldo, Humaitá, a arena do Grêmio, o estádio Beira Rio, o Mercado Público e o Aeroporto Internacional Salgado Filho estariam inundados.
Criado após a histórica enchente em 1941, o sistema compreende o muro da Avenida Mauá, onde fica parte das comportas, próximo à Avenida Sepúlveda, e de acesso ao Catamarã, no Cais, além do muro de concreto no bairro Centro Histórico, e os diques espalhados por diferentes pontos da cidade, como a freeway, Avenida Castello Branco e as orlas 1, 2 e 3.
Na avaliação de especialistas do IPH UFRGS, a estrutura funciona, mas pode e deve receber melhorias assim que a água baixar, pois novas enchentes podem ser maiores e mais agressivas. Para isso, é necessário investimento!
Fontes: Simpa, Sul 21, PMPA, Gaúcha ZH e G1
Foto: Cesar Lopes/PMPA