Artigo – Envoltório Ideológico 2: Os Aparentes Avanços
Por Rui Muniz
Então, desenvolvimento para quem?
O desenvolvimento, que tratamos no Artigo Envoltório Ideológico 1: o Reconhecimento, trouxe consigo rápido crescimento de estruturas e infraestruturas de empresas e aparelhos de Estado, subsidiado por esse. A Revolução Industrial em curso, de forma mais intensa desde o Século XIX, gera uma aparente estabilidade social, fazendo sobreviver parte dos filhos da Classe Trabalhadora em lugares de trabalho, muitas vezes, miseráveis, desregulamentados e mal pagos, como subemprego alternativa de sobrevivência, mas que produzem base para a agregação de valor para a economia global, direta ou indiretamente.
Gera, também, a sensação de bem-estar, escondendo as diferenças entre a riqueza de poucos e a pobreza de muitos. A Educação, a Assistência Social, a Saúde, limitadas à disposição dos dados dos meios de produção e do Estado, não conseguem melhorar o desemprego e o mal-estar. A evidente distância assustadora entre a necessidade da Classe trabalhadora e a possibilidade permitida pelos capitalistas, não consegue ser escondida.
Esse desenvolvimento, ideológico, como já vimos, também gerou um grande aumento na produção de alimentos, e gerou a fome, a desnutrição e miséria; basta contrastar o consumo per capta de alimentos entre países do capitalismo central e países em estágio colonial, como o Brasil, garantida essa lógica por sua dependência econômica e política. A Ciência e a Técnica geraram o progresso da agricultura, no entanto se tornaram inevitáveis, pelo sistema, a existência permanente da tragédia da fome.
Nas grandes cidades, a situação das moradias é catastrófica na urbanização pensada pelos capitalistas, onde suas premissas também estão distantes das necessidades básicas da Classe Trabalhadora. Na grande maioria, resulta no valor dado pelos capitalistas para a ocupação do solo, gerando fenômenos urbanos discriminatórios pela incapacidade econômica imposta às famílias operárias, pelo preço. As urbanizações obedecem às leis de reprodução do capital, de agregação de valor e função do trabalho, o que é concebido muito próximo à sociedade de classes, do dono do processo ao operador, operário. Para os sem trabalho formal, restam as alocações concentradas em favelas sem canalizações adequadas para água e esgoto, sem ruas estruturadas, casas sem habitabilidade… sem serviços de limpeza e higiene, onde mulheres e homens, e suas famílias, são levados ao que resta de luta pela sobrevivência.
Esse modelo de desenvolvimento dissolve todas as estruturas básicas humanas e ecológicas, gerando ambientes amorfos em indigência, criminalizáveis, e a sociedade de consumo, desenvolvida, que em grande parte não consome. Então, desenvolvimento para quem?
Não há a possibilidade de existir equilíbrio por meio de impulso próprio, natural e racional, por iniciativa individual. Não há perspectivas ou “oportunidades” para analfabetos, subnutridos, subempregados, morando em casebres, muitos feitos de sobras de madeiras, plásticos e latas, sacos e papelão, a não ser de gerar mais subnutridos, subempregados, distantes desse desenvolvimento onde nem a Assistência do Estado capitalista conseguiria acomodar as contradições existentes; esse Estado não é capaz de atenuar e compensar. Aliás, para essa assistência, não tem como nominar, mas apenas entender sua função de garantir as próprias contradições.
E esse modelo de desenvolvimento, ideologicamente concebido, quer nos convencer por números que devemos tolerar a insuportável existência que a maioria humana vive. E esse desenvolvimento, ideológico, desconsidera a vida ecológica quando sustenta a geração e o gasto de tanta energia, a produção de tanto lixo, a poluição de tanto ar e água, a extinção da mata, solo e subsolo.
E esse modelo de desenvolvimento desconhece a organização social necessária à vida, que tem, em sua essência, em sua característica primeira, as virtudes necessárias da liberdade e autonomia, e que nunca se submeterá e sobreviverá em um modelo de produção organizada, doutrinada e submissa, em tolerância paciente, ao atendimento de suas necessidades pelo sistema e pelo Estado burguês.
Não é verdade que seremos surpreendidos por políticas geradas por esse modelo de desenvolvimento, e que há possibilidades da Classe Trabalhadora aprender, trabalhar, ter casa e saúde, respirar ar fresco e beber água limpa nessa sociedade desenvolvimentista.
Não há nada mais a renunciar para ter o direito à vida, mesmo que a propaganda ideológica chegue nas favelas e vilas e que existam programas de assistência de governos, fundações e empresas dizendo o contrário; fazem parecer, as propagandas e programas, que é possível comer, ter casa, carro novo e viajar de avião. Querem fazer que acreditemos que se pode ter, fazer e comprar tudo, o que é um escárnio; as esperanças despertadas e as possibilidades econômicas, são falácias.
O desenvolvimento do consumo não é tão diferente da justiça divina: é a ideologia cumprindo a função de preservar a riqueza e a pobreza. A dinâmica real, desse desenvolvimento, por sua natureza, não permite a existência de dinâmicas que garantam estruturas capazes de construir as políticas necessárias.
E, com isso, as tensões desse descompasso das políticas geram desarranjos que o Estado liberal busca conter e controlar; coloca a responsabilidade dos enfrentamentos na Lutas de Classe, na defesa de direitos, que têm suas direções no Movimento Socialista.
E, com as mudanças permanentes dos modos e meios de produção, as tensões se tornam cada vez mais agudas e crônicas, porque a cada mudança mais limites e exclusões são impostos à Classe Trabalhadora.
É função disso que, nesse modelo de desenvolvimento, contínuo, a ideologia busca suportar o fenômeno das catástrofes dramáticas e violentas, geradas pelo cada vez maior desatendimento às necessidades humanas, sociais e ecológicas. Essa é a realidade assustadora que nos impõe a necessidade de fazer a disputa ideológica para construir o novo modelo de desenvolvimento ecológico pela vida.
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