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Nova reitoria da UFCSPA é escolhida pela comunidade acadêmica em processo não paritário

Apesar dos esforços dos servidores TAEs e estudantes em democratizar a UFCSPA, a consulta à comunidade que elegeu a nova gestão se deu sem paridade. A única chapa concorrente foi composta pela atual vice-reitora, Jenifer Saffi, e pelo professor Rafael José Vargas Alves, que ocuparão os cargos de reitora e vice-reitor, respectivamente.

A chapa recebeu um total de 1.183 votos: 259 de professores, 128 de técnico-administrativos e 796 de estudantes. Além disso, foram registrados 114 votos em branco ou nulos. 

A paridade tem o papel de garantir que todos os segmentos sejam igualmente importantes na construção da comunidade acadêmica, tornando-se um princípio democrático básico e indispensável. A ausência dela, portanto, torna o peso desigual, uma vez que docentes somam 70% dos votos e os discentes e técnicos apenas 30%.

Foi remetida ao Consun uma proposta de resolução elaborada pelas entidades de representação dos estudantes e técnicos-administrativos que estabelecia consulta para eleições da reitoria em moldes paritários para o ano de 2024. Infelizmente, a proposta foi rejeitada e conduziu essas eleições na proporção 70/15/15. 

Segundo o coordenador da ASSUFRGS e servidor da UFCSPA, Ricardo Souza, a universidade segue sendo a única federal na região sul do país que mantém o modelo 70/15/15. “Questionados pelo conjunto dos técnicos administrativos, através de uma carta articulada na categoria, não assumem compromissos efetivos com temas centrais para a categoria como a paridade e busca efetiva por códigos de vagas para técnicos administrativos. Vamos seguir dialogando com a nova gestão, com independência política e compromisso com as pautas das e dos TAEs da UFCSPA e em defesa da educação pública”, afirma Ricardo. 

Um dos coordenadores gerais da APG da UFCSPA, Josué Renner, destaca a baixa adesão do segmento estudantil, pois apenas 20% dos estudantes votaram na eleição para a reitoria. Ele acredita que um dos fatores que corroboraram com isso foi a paridade ter sido rejeitada no CONSUN. “Quando o voto dos estudantes vale apenas 15%, a gente tem um cenário de desmobilização do segmento estudantil. Nós recebemos muitos relatos de estudantes que não se sentiram animados para abrir a página da votação e votar, porque, segundo as palavras deles, o voto valia muito pouco”, compartilha Josué. 

Conselheira discente no Consun, coordenadora-geral da Associação de Pós-Graduandos da UFCSPA e diretora da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG), Giulia Souza da Costa,  acredita que o resultado reflete a própria limitação do Consun como um espaço de democracia na UFCSPA: “Como é possível, em um espaço democrático, que uma votação com tamanha importância ocorra quase às escondidas?”, questiona, referindo-se à sessão do Consun que rejeitou a proposta de eleições paritárias. Segundo ela, muitos docentes alegam que os estudantes são passageiros e que, portanto, não devem ter o mesmo peso que os servidores. “Ocorre que nenhum indivíduo, servidor ou estudante, permanecerá na comunidade acadêmica para sempre, todos são passageiros. O que defendemos é que o segmento discente, assim como os demais, é permanente. Nunca existiu e nunca existirá uma Universidade sem o segmento estudantil, por isso ele deve contribuir da mesma maneira nas discussões”, defende Giulia. 

Apesar da proposta ter sido rejeitada, a conselheira discente no Consun reconhece que a mobilização avançou um importante passo rumo à paridade na UFCSPA, conquistando a constituição de um Grupo de Trabalho que irá debater o tema para a futura eleição de 2028. 

Giulia entende que a realidade paritária dentro da UFCSPA só será alcançada com a conscientização do segmento docente, que segue com a decisão em suas mãos. “Nacionalmente, [a paridade] só será alcançada na medida em que nossa mobilização determine a mudança da lei 9.394/96 que, espelhada em um decreto ditatorial, disciplina a constituição dos conselhos universitários como estão. Neste dia, será possível termos espaços decisórios verdadeiramente representativos nas Universidades, com a mesma proporção de professores, técnicos e estudantes. Seguiremos tensionando de ambos os lados”, afirma. 

Foto: Divulgação/UFCSPA