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Assalto em ônibus de Porto Alegre expõe problemas na segurança e no atendimento pós-privatização da Carris

Após mais de um ano desde a privatização da Carris, os impactos já começam a ser sentidos pela população de Porto Alegre, incluindo no que diz respeito à segurança no transporte público. A reportagem da ASSUFRGS obteve depoimentos que indicam que a empresa perdeu informações de e-mails enviados pela população durante a transição de empresa pública para privada. A Carris, por sua vez, responsabiliza a Empresa de Tecnologia da Informação e Comunicação da Prefeitura de Porto Alegre (Procempa), que, por meio de um relatório, refuta qualquer envolvimento com o ocorrido.

A privatização da Carris Porto-Alegrense – uma das mais antigas empresas de transporte público do Brasil – foi aprovada pela Câmara de Porto Alegre em setembro de 2021. No dia 2 de outubro de 2023, a empresa foi entregue à iniciativa privada pelo governo de Sebastião Melo (MDB), firmando contrato com a Empresa de Transporte Coletivo de Viamão. A transição foi oficializada em 23 de janeiro de 2024, quando a companhia deixou de ser pública.

Curiosamente, no mesmo dia da cerimônia de assinatura do contrato, a professora Daniela Machado Conde, moradora do bairro Bom Jesus, foi assaltada em um ônibus da linha T2. Ao tentar relatar o incidente à Carris, não obteve nenhum retorno que a auxiliasse com o caso.

Daniela entrou no ônibus no terminal ao lado do Shopping Praia de Belas, onde o coletivo estava praticamente vazio, com no máximo 10 pessoas. O assaltante entrou sem pagar a passagem e, apesar de Daniela estar com fones de ouvido, ela ouviu o motorista permitir sua entrada. Sentada perto da porta de saída, ela nunca imaginou que seria vítima de um assalto. “Eu sempre achava que no ônibus estaria segura”, comenta.

Enquanto enviava uma mensagem à filha, Eduarda Conde, para avisar que chegaria mais tarde, o assaltante arrancou seu celular e fones de ouvido. “Não vi nada, só senti o baque. Achei que o ônibus tivesse batido. Foi horrível”, lembra a professora. Ela conta ainda que o motorista não percebeu o assalto e que os passageiros comentaram que ele havia permitido a entrada do criminoso. A filha de Daniela, Eduarda, registrou um boletim de ocorrência online, mas, segundo a vítima, “não deu em nada”.

Eduarda também entrou em contato com a Carris por e-mail, relatando todos os detalhes do assalto. “Comentei sobre o horário, a rota, o fato de o assaltante ter entrado sem pagar, mas não obtive resposta, assim como aconteceu com o boletim”, afirma.

Em entrevista à reportagem, o atendente do SAC da Carris, Evandro Vav, confirmou que o sistema da empresa foi alterado em janeiro, o que causou a perda de alguns e-mails. Ele explicou que o procedimento padrão nesses casos seria guardar as imagens das câmeras de segurança e fornecê-las à polícia mediante solicitação. No entanto, devido à mudança de sistema, ele afirmou que dificilmente as imagens do assalto que vitimou Daniela estarão disponíveis.

Evandro também comentou que a política da empresa mudou após a privatização. Antes, o atendimento ao cliente tratava diretamente de incidentes como roubos, mas agora o departamento de segurança é o responsável por todas as questões relacionadas à segurança.

A Carris, em nota à reportagem, reconheceu que houve a perda de muitas informações de e-mails durante a transição para a gestão privada. A empresa explicou que os dados estavam armazenados nos servidores da Procempa, e, com a mudança de gestão, essa associação foi desvinculada.

Porém, a Procempa refutou qualquer envolvimento no incidente. Em relatório, a empresa esclareceu que o sistema de e-mails da Carris estava funcionando normalmente e que o e-mail de Eduarda foi, de fato, recebido e respondido. A Procempa ainda destacou que a ausência de resposta à última mensagem de Eduarda, em janeiro de 2024, não tem relação com a transição de gestão, pois o processo de mudança de provedores (de Procempa para Locaweb) só começou em agosto de 2024.

Quanto às câmeras de monitoramento, a Procempa afirmou que nunca foi responsável pela instalação ou gestão do sistema de videomonitoramento nos ônibus da Carris.