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Artigo revela alta mortalidade da dengue em idosos no RS

Um artigo publicado na International Society for Infectious Diseases (ISID) pelo bolsista de pós-doutorado do PPG-Biociências da UFCSPA Richard Steiner Salvato em parceria com pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) revela o aumento na mortalidade de pacientes idosos devido à dengue grave no sul do Brasil. “Severe dengue-related deaths in the elderly population soared in Southern Brazil in 2024” mostra que a incidência da doença no Rio Grande do Sul aumentou 9,45 vezes nos últimos 10 anos. Entre as possíveis causas apontadas para estes índices está a baixa proteção imunológica contra o vírus na região, devido ao fato do estado historicamente apresentar reduzido número de casos.

Os resultados da pesquisa indicaram que o aumento da letalidade da dengue grave no Rio Grande do Sul em 2024 foi impulsionado por uma combinação de fatores epidemiológicos, demográficos e ambientais. Observou-se que a maioria das mortes ocorreu entre idosos acima de 60 anos, grupo mais vulnerável devido à maior incidência de comorbidades e menor resistência à desidratação e hiper-hidratação. Além disso, a pesquisa revelou que a população da região é imunologicamente ingênua, uma vez que o estado historicamente registrava poucos casos de dengue, o que aumentou a gravidade das infecções. Também foi identificado um crescimento expressivo da incidência da doença nos últimos dez anos, impulsionado pela expansão do mosquito Aedes aegypti devido ao aumento da temperatura média na região.

Outro achado relevante foi a mudança no sorotipo predominante do vírus, com um aumento da circulação do DENV2, potencialmente associado a formas mais severas da doença. Além disso, a baixa conscientização da população e a limitada experiência dos profissionais de saúde no manejo da dengue podem ter contribuído para o diagnóstico tardio e para a progressão dos casos para formas graves, evidenciando a necessidade urgente de estratégias de prevenção e tratamento mais eficazes para reduzir a mortalidade.

A metodologia de trabalho combinou análises epidemiológicas, demográficas, climáticas e genômicas. Primeiramente, foram analisados dados epidemiológicos sobre a incidência e a letalidade da dengue em diferentes estados brasileiros, comparando o perfil etário das vítimas fatais. Em seguida, um estudo demográfico foi conduzido para examinar a distribuição etária da população e sua relação com os casos graves da doença. Além disso, modelos climáticos foram utilizados para avaliar a influência das mudanças na temperatura na expansão do mosquito Aedes aegypti na região.

A pesquisa também realizou vigilância genômica do vírus da dengue, identificando a prevalência dos sorotipos circulantes e possíveis mudanças que poderiam estar associadas à gravidade dos casos. Por fim, foram revisados dados clínicos para avaliar a capacidade do sistema de saúde local em identificar e tratar precocemente os casos graves, considerando fatores como a experiência dos profissionais de saúde e o nível de conscientização da população sobre a doença.

Segundo Richard Steiner Salvato, para reduzir o impacto da dengue em populações vulneráveis “além de realizar de medidas gerais já bem conhecidas, como realizar o controle do mosquito Aedes aegypti eliminando criadouros de mosquitos em residência, é importante conscientizar profissionais de saúde e a população sobre a importância do diagnóstico oportuno da doença. As pessoas devem ficar atentas a sintomas como febre, dor de cabeça e dor no corpo, bem como manchas na pele, para que possam buscar o atendimento no início da doença. Os profissionais de saúde, por sua vez, devem ter em mente a alta circulação do virus e estar atentos aos possíveis casos. O diagnostico rápido permite o tratamento de forma eficaz, aumentando as chances de recuperação desses pacientes. Outro ponto essencial para os gestores em saúde, é buscar ampliar a vacinação contra a dengue especialmente na população mais vulnerável, incluindo a população idosa”.

O pesquisador de pós-doutorado junto ao PPG Biociências Richard Steiner Salvato é enfermeiro sanitarista e doutor em biologia celular e molecular (UFRGS). Ele coordena um projeto de pesquisa fomentado pela Fapergs e Fiocruz que tem como objetivo estudar diferentes vírus zoonóticos (aqueles que se originam em animais e passam a infectar humanos) no Rio Grande do Sul. Entre os virus estudados está o da dengue, o qual está sendo monitorado sobre sua disseminação no estado e impactos na saúde da população nos últimos dez anos.

Na UFCSPA, é orientando da professora Adriana Seixas, atuando em projetos voltados ao uso de ferramentas genômicas para investigar as associações entre a composição da microbiota intestinal (ou seja, o conjunto de bactérias presentes no intestino) e seu impacto na progressão de doenças como a cirrose hepática.

Acesse o artigo de Richard Steiner Salvato clicando aqui.

Foto: Jhonatan Cantarelle/Agência Saúde