Mural do Daer: em meio à incerteza, entidades seguem mobilizadas para manter arte na fachada do prédio
Um dos maiores painéis artísticos da cidade, o mural pintado na lateral da sede do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) e da Procuradoria-Geral do Estado (PGE), na avenida Borges de Medeiros, em Porto Alegre, ainda corre risco de ser apagado devido às obras que serão realizadas na fachada do prédio. A arte não foi incorporada ao patrimônio do estado. A Secretaria de Estado da Cultura informou que o caso deveria ser tratado com o departamento. Assinado por Mona Caron e Mauro Neri, o painel foi inaugurado em janeiro de 2022. São 65 metros de altura e 15 de largura que retratam Beatriz Gonçalves Pereira, mais conhecida como Mãe Bia, moradora da Ilha da Pintada, educadora popular e ativista do movimento negro. A ASSUFRGS Sindicato foi uma das entidades que contribuíram para custear o projeto.
As entidades que participaram da elaboração do painel, se reuniram com o diretor-geral do Daer, Luciano Faustino, no início de fevereiro, dia 05. Foi discutida a possibilidade de manutenção do mural. O prédio passará por reforma em virtude da queda das pastilhas da fachada. “A gente não bateu o martelo para fazer as reformas das quatro fachadas. Estamos abertos, inclusive, a sugestões técnicas. A ideia é prolongar a vida útil desta lateral, afinal toda a obra urbana tem sua validade em razão do tempo”, disse Faustino durante o encontro. O departamento informou que ainda não descartou a possibilidade da remoção do painel.
Mãe Bia também estava na reunião. Ela se emocionou ao traduzir a importância do mural para o povo negro e as pessoas que moram nas ilhas, geralmente esquecidas pelo Poder Público. A fala da educadora popular foi aplaudida pelos presentes. “Essa é uma região da cidade de onde saíram poetas, músicos e artistas negros, figuras essenciais para a construção da identidade de Porto Alegre”, disse.
Projeto Memórias Negras em Verbetes
Como forma de memória, o mural deverá entrar no projeto Memórias Negras em Verbetes, entrando na lista como parte do patrimônio cultural da cidade. A iniciativa propõe a criação de uma lista de verbetes que representam o patrimônio cultural, personalidades e coletivos negros. Isso se dá a partir de um trabalho de pesquisa conduzido por historiadores, antropólogos e geógrafos, sob a coordenação técnica de Jane Mattos e Pedro Vargas, com a participação ativa do movimento social negro. Em sua primeira edição, com financiamento da Lei Aldir Blanc, o projeto registrou 50 verbetes e gravou cinco episódios de podcast sobre o tema. Nesta segunda edição, que conta com recursos da Lei Paulo Gustavo, o projeto pretende produzir mais 50 verbetes e uma nova série em podcast. Os resultados do projeto podem ser conferidos no site memoriasnegrasemverbetes.com e no Canal Memórias Negras no Spotify Memórias Negras.
Fontes: Matinal, Sul21 e GZH
Foto: PGE/RS